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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Tempo


E para encerrar 2010, um trecho da poética Oração ao Tempo do imortal Caeteano:

...
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo
...
(caricatura do Caetano: http://www.araraquara.com/imagens/caricaturas/2010/05/08/caetano-veloso-cantor-e-compositor.html)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

VERBUS a poesia se fez carne SOBRE O AMOR


Quintas de novembro.
Hoje é dia de sarau no BAR LE MARCHAND.
Brás de Aguiar, 684 (entre Quintino e Generalíssimo)

Para contagiar poetas e amantes da poesia, apresento ALDA LARA, poetisa angolana do seleto grupo dos 100 POEMAS ESSENCIAS DA LÍNGUA PORTUGUESA, livro que ganhei no VII Sarau da Primavera do Restaurante Portugália (na foto, confrades presentes em mais uma inesquecível noite de poesias):

AS BELAS MENINAS PARDAS
As belas meninas pardas
são belas como as demais
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.

Querem saber mais de ALDA LARA?
Venham para o Le Marchand, o poema será declamado em toda sua beleza...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

20 de Outubro: DIA NACIONAL DO POETA

Para homenagear confrades poetas, AUTOPSICOGRAFIA de Fernando Pessoa



O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.



E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.



E assim nas calhas da roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama o coração.



E para aqueles "fingidores" da Cidade das Mangueiras, deixo um convite: VII SARAU DA PRIMAVERA

Nós, amantes da poesia, estaremos reunidos para mais uma vez para celebrarmos a vida, o amor, a esperança, ou mesmo a amargura Byroniana ou calafrios de Poe. Venha participar conosco! Traga seu poema predileto ou aquele que você mesmo escreveu.

Dia: 28.10.2010 – Quinta-feira;
Local: Restaurante Portugália – Rua dos Mundurucus, entre Serzedelo Corrêa e Doutor Moraes (quase esquina com Dr. Moraes), Belém do Pará
Horário: 20:00 h

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

PRÊMIO JABUTI - BENEDITO NUNES

O professor e filósofo paraense Benedito Nunes, vencedor do Prêmio Jabuti, edição de 2010, na categoria Teoria/Crítica Literária, com o livro A clave do poético, está também concorrendo ao Prêmio Jabuti 2010 no Sistema de VOTO POPULAR, onde concorrem os três primeiros colocados nas diversas categorias do Prêmio.


A votação é feita pela internet no site:


http://cbl.org.br/jabuti/telas/voto-popular/Default.aspx


Escolhe-se, primeiramente, o livro de ficção e, em seguida, o de não-ficção, relação na qual está o livro de Benedito Nunes.


A CLAVE DO POÉTICO


A obra de Benedito Nunes é marcada pela interpenetração entre os domínios da literatura e da filosofia. Atento investigador do fazer poético, o crítico, filósofo e professor paraense reúne aqui alguns dos pontos altos de sua vasta produção, que abarca desde a filosofia de Nietzsche, Spinoza e Wittgenstein até os mais recentes desenvolvimentos da literatura brasileira contemporânea.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Poeta Apolo da Caratateua lança novo livro

Nesta sexta-feira, 1º de outubro, Apolo Monteiro Barros lançará na FCV/Casa da Linguagem os livros: “CABANAGEM: a Tomada do poder” e “JÚLIO CÉSAR: o paraense voador”.

No livro “CABANAGEM: A tomada do poder”. Apolo utiliza-se da Literatura de Cordel para falar da grande rebelião popular que eclodiu na província do Pará em 1835, e que contou com a participação da população pobre que vivia em cabanas à beira dos rios. Já em “JÚLIO CÉZAR: O paraense voador”, ele presta homenagem a Júlio Cézar, nobre filho de Acará, nascido em 13 de junho de 1843, que levantou balões pequenos, com até dez metros, presos a cordas e demonstrou a eficácia do seu invento através de manobras contra o vento. Júlio Cézar também foi poeta, e por muitos foi considerado Príncipe dos poetas.

Apolo Monteiro Barros, ou Apolo da Caratateua, nasceu na cidade de Recife em Pernambuco. Gráfico de profissão especializou-se em serigrafia, função que exerce até hoje. Chegou a Belém em dezembro de 1989. Iniciou-se na poesia no ano de 2004, através da participação em uma oficina de Literatura de Cordel realizada pelo Instituto de Artes do Pará. O gosto pelo cordel ganhou o seu coração e fez surgir um novo poeta. Apolo também é carnavalesco e atual presidente da “Escola de Samba Associação Beneficente Recreativa Cultural e Carnavalesca Parafuseta da Caratateua”. É ainda, membro fundador do Movimento Literário Extremo Norte. Ele já escreveu e lançou diversos livros, entre os quais estão: Ilha de Caratateua; Reforma Agrária Urgente; Círio de Nazaré (2004); Papa João Paulo II ( 2005); Irmã Dorothy (2006); Padre Gabriel Malagrida: O construtor dos Seminários de Belém (2008) e Guapuiando Sonhos na Ilha de Itaituba (2009).

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O BELO MICROSCÓPICO

O concurso Nikon Small World premia as mais belas fotografias tiradas por microscópios.


Foto de Stephen Nagy, de Montana, nos EUA, mostra uma alga marinha já extinta.

Foto de Jerzy Gubernator, da Universidade de Wroclaw, na Polônia, mostra uma bolha de ar
em uma amostra de gel.

Foto de Álvaro Migotto, do Centro de Biologia Marinho de São Paulo, um
dos dois brasileiros finalistas este ano, mostra um embrião de estrela do mar.

Foto de Devin Lee O'Connor, da Universidade de Berkeley, nos Estados
Unidos, mostra o desenvolvimento de vasos em uma folha de milho.

Foto de Michael J. Stringer, mostra várias algas sobrepostas.

Foto de Sébastian Ricoult, da Universidade McGill em Montreal,
no Canadá, mostra uma célula de mioblasto cultivada.

Foto de Mayumi Wakazaki e Kiminori Toyooka, do Centro de Ciências de Plantas RIKEN, no Japão,
mostram o estame (orgão sexual masculino) de uma begônia vermelha.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CRÔNICA DE RUBEM BRAGA


O MISTÉRIO DA POESIA

Não sei o nome desse poeta, acho que boliviano; apenas lhe conheço o poema, ensinado por um amigo. E só guardei os primeiros versos: Trabajar era Bueno em el Sur. Cortar los árboles hacer canoas de los troncos.

E tendo guardado esses dois versos tão simples, aqui me debruço ainda uma vez sobre o mistério da poesia.

O poema era grande, mas foram essas palavras que me emocionaram. Lembro-me delas às vezes, numa viagem, quando estou aborrecido, tenho notado que as murmurro para mim mesmo, de vez em quando, nesses momentos de tédio urbano. E elas produzem em mim uma espécie de consolo e de saudade não sei de que.

Lembrei-me agora mesmo, no instante em que abria a máquina para trabalhar nessa coisa vã e cansativa que é fazer crônica.

De onde vem o efeito poético? É fácil dizer que vem do sentido dos versos; mas não apenas do sentido. Se ele dissesse: Era Bueno trabajar em el Sur, não creio que o poema pudesse me impressionar. Se no lugar de usar o infinitivo do verbo cortar e do verbo hacer usasse o passado, creio que isso enfraqueceria tudo. Penso no ritmo: ele sozinho não dá para explicar nada. Além disso, as palavras usadas são, rigorosamente, das mais banais da língua.
Reparem que tudo está dito com elementos mais simples: trabajar, era Bueno,Sur, cortar, árboles, hacer canoas, troncos.

Isso me lembra um dos maiores versos de Camões , todo ele também com as palavras mais corriqueiras de nossa língua:
"A grande dor das coisas que passaram".

Talvez o que mais me impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia. Nesse poema sul-americano a idéia da canoa é também motivo de emoção.

Não há coisa mais simples e primitiva que uma canoa feita de tronco de árvore; e acontece que muitas vezes a canoa é de grande beleza plástica. E de repente me ocorre que talvez esses versos me emocionem particularmente por causa de uma infância de beira-rio e de beira-mar. Mas não pode ser: o principal sentido dos versos é o do trabalho; um trabalho que era bom não essa "necessidade aborrecida" de hoje. Desejo de fazer alguma coisa simples, honrada e bela, e imaginar que já se fez.

Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem à muito equívoco e muita bobagem . Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem profundas...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

E para falar em saudade...

Falar em saudade, para Eurídice, aquipoetisa e monalisa da Confraria, é poetisar sobre mudanças, boas mudanças em um céu de brigadeiro...

Céu de brigadeiro

Passei a noite
tecendo asas e
decolei ao amanhecer.
Buscava uma visão
de condor e um roteiro.
Voei em espirais e
eufórico, suei nuvens.
Insisti no azul, me apoderei
da linha do horizonte e tracei
rotas por sobre os humanos.
Segui trilhos no ar como
quem nasceu para voar.Vi com olhos de águia e
elegi alvos sobre-humanos.
Arremeti medos e incertezas e
senhor de um céu de brigadeiro,
esperançoso, me descobri
pássaro novo.

Voa Eurídice, ave nova, redescoberta, quem nem a Heliane...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tirando o chapéu para Edney Silvestre


“Se Eu Fechar os Olhos Agora”, de Edney Silvestre, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2010 na categoria estreante, é um romance finamente urdido, que transita entre vários gêneros (policial, formação, social, histórico), constituindo-se um excepcional painel da vida brasileira no comecinho da segunda metade do século passado.


Passa-se numa cidade do interior do Rio de Janeiro, zona cafeeira de antigo esplendor, onde o corpo mutilado de uma bela mulher é encontrado à beira de um lago por dois garotos de 12 anos, na data em que o astronauta russo Iúri Gagárin subiu ao espaço pela primeira vez a bordo de uma nave espacial, em 12 de abril de 1961.

A partir daí, com grande domínio do texto, inclusive lançando mão de todo um arsenal de recursos conhecidos apenas dos que têm pleno conhecimento do código literário, Edney Silvestre vai desenrolando sua trama em que, paralelamente ao interesse nunca arrefecido pelo desvendamento do pavoroso crime que envolve altas figuras da sociedade local, são expostas algumas chagas da sociedade brasileira, como o classismo, o racismo e o machismo, ainda hoje não plenamente saradas.

Se alguns apontam que, em certos momentos, os diálogos entre os dois guris soam excessivamente maduros, vale lembrar que a narrativa sai da boca de um deles já na maturidade, quando os fatos vividos e a sua memória se enredam de tal maneira que dificilmente se distingue o que aconteceu da sua reconstituição pelas lembranças. Questão que é inteligentemente colocada pelo narrador no trecho a seguir, a propósito de uma canção (“Noche de Ronda”) ouvida na época e recordada nevoentamente depois por um dos protagonistas:

“Eu nem sabia como era a vida dela naquela noite. Imaginei a canção mais tarde. Ouvi a canção mais tarde. A música em espanhol, a voz na noite, tudo foi acrescido e... Não. Não. Não. Tenho certeza: ouvi naquela noite. Uma voz de homem. Acho que era. Faz sentido: voz masculina. ‘Ella se fue’, ele canta. Quem lamentava o abandono era ele. Uma voz masculina. Acho. Tenho certeza. Acho. Voz masculina, grave. Na mesma noite do dia em que encontramos o corpo dela”.

Jornalista do primeiro time, entrevistador sensível de escritores na televisão, plenamente familiarizado com o universo literário, Edney estreia na ficção com o pé direito.

Texto integralmente extraído de http://www3.interblogs.com.br/homerofonseca/

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sarau em Fortaleza






Na terra do Patativa do Assaré, em uma agradável noite julinha na casa da amiga Heliane, os poetas Eurídice, Cabeto e Bosco foram recebidos para um sarau. Nas fotos, um pouco do encontro, relembrando o que Patativa do Assaré disse:



"Poetas niversitário,

Poetas de Cademia,

De rico vocabularo

Cheio de mitologia;

Se a gente canta o que pensa,

Eu quero pedir licença,

Pois mesmo sem português

Neste livrinho apresento

O prazê e o sofrimento

De um poeta camponês".



E assim foi nossa noite, declamando e cantando o que nosso coração sentia.

sábado, 3 de julho de 2010

Eurídice, arquipoeta, Monalisa da Confraria




Estranharam o título?

Deixemos primeiro Eurídice falar depois de ter lido o "Tratado acerca das flores":

"Bosco, grande arquipoeta. Gostei muitíssimo do livro, me encantei com os versos quentes de Adina, o pensamento escancarando palavras de Abadessa, Barriga parindo uma poesia que grita, os seus versos de amor "que canta dentro" da gente, os versos de Ney, todos eles uns fenômenos, adorei! e Walcyr íntimo das estrelas. O livro tem uma diversidade de sentimentos muito grande, como bem disse o prefaciador. Está lindo e inspirador."

E por falar em inspriração, vejam o que ela escreveu depois da leitura:

"Águas passadas

Se eras mergulhador e me fizeste mar,
por que te mantiveste apenas na superfície?
E eu que pensei que sofria,
na verdade morria.
No fundo, no fundo,
estava no poço
."

Esta é a alma de Eurídice Macedo, Arquiteta e Poeta, ou arquipoeta, talentosa soteropolitana que se encantou com os versos do festejado livro de 10 Anos da Confraria da Cova dos Poetas. Talento reconhecido internacionalmente pela Brazilian Endowment for the Arts (BEA), centro cultural localizado no coração de Manhatan, Nova Iorque, com o objetivo de promover e cultivar o uso da língua, cultura, artes e letras brasileira nos Estados Unidos - ela ganhou menção honrosa no Concurso Literário Feminino de Poesia e Prosa com a belíssima poesia "Monalisa de Reservado".

Ficou a promessa de Eurídice encarnar sua Monalisa em um sarau da Confraria. Convite feito e aceito, na hora!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Carta de despedida ao Claudionor

Hoje eu preparei uma vodka . A tua partida me deu sede, uma necessidade de embriaguez, de esquecer a tristeza, de ser consolado antes de consolar.
Sabia que tua partida era inevitável, mas invejei a fé de tua companheira e a força que eu não teria, mas queria ter, mas não tenho, e tive a ilusão que tu poderias ficar mais um pouquinho, e a gente poderia ser um pouquinho mais amigo, porque de repente me deu uma vontade enorme de te conhecer mais esse pouquinho, porque o pouquinho que eu te conheci me deu a impressão que poderíamos ser amigos um pouco mais e esse pouco mais me faria ser mais do que hoje eu sou.
Não tinhas a idade para ser meu pai, só a idade de um irmão mais velho, mas a sensação de perda que senti hoje foi a mesma quando, aos 19 anos, perdi meu pai, aquela sensação de que estava próximo o tempo de nos tornarmos realmente amigos, de nos conhecermos, e esse tempo se perdeu de um momento para outro.
Mas fomos amigos um pouquinho, porque tu sabias ser amigo, compreensível, de fala mansa, de sorriso fácil, de um silêncio educador. Conversamos, bebemos, rimos e até saímos juntos uma vez, vez suficiente para eu saber o quanto eu tinha a aprender contigo.
Não era o momento. Era? Não era? Inexorável destino. Destino inexorável.
Diz a ciência que daqui a cinquenta anos ninguém mais vai precisar morrer.
Teu pai, este sim, com idade pra ser meu pai, meu velho amigo Manoel, te relembrando ainda menino, pequeno companheiro do Antônio, do Antônio da morte prematura, recordando do Bandola e da querida Margarida, se pergunta; o velho Manoel se contorce, numa dor de desconsolo, e se pergunta: Por que o meu filho? Por que não vou eu?
- Porque as coisas não são assim, responde o Bira, e se assim simples fossem, não é Bira?, que graça a vida teria, de quantos manoeis ficaríamos órfãos? Já não bastam as partidas inesperadas dos claudionores?
Eu estava indo tratar da minha saúde quando fui informado da tua partida e, ao mesmo tempo, convocado pro time que faria o meio campo junto com teu pai.
Sabe, Claudionor, se fosse imaginável qualquer compensação que pudesse superar a notícia da morte de um amigo, bem poderia esta ser o chamado dos irmãos desse amigo para ajudar a consolar o pai, inconsolável, com toda a razão.
Eu, de natureza covarde, que foge a qualquer desafio de enfrentamento mais profundo, que preferira até então renegar a amizade a ter que encarar os impropérios que um dia ou outro inexoravelmente estas amizades nos impõem, fui, no minuto final da partida, convocado a participar e, paradoxalmente, tal qual a inexplicável e indescritível fé da Lourdes, dos teus filhos e de tuas irmãs, silenciei o rádio do carro e segui feliz, feliz por mim, por teus irmãos, por teu pai e por ti.
Obrigado por tudo meu prezado amigo!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

5º LIVRO DA CONFRARIA

UMA NOITE, DOIS LIVROS

Acontece no próximo dia 25, às 19h30 o lançamento do 5º livro da Confraria da Cova dos Poetas, "Tratado Acerca das Flores"  junto com o 6º livro do autor Alberto Abadessa, "Terra Movediça". 
A Confraria, renovando sua política de sempre fazer coletâneas, traz dessa vez como convidados autores renomados e com larga experiência na literatura paraense, são eles: Adina Bezerra, Eliana Barriga e Walcyr Monteiro. Os outros autores são os fundadores da Confraria: Alberto Abadessa, Ney Cohen e João Bosco.
O evento é livre para todos que se interessam pela boa literatura feita no nosso estado.

Portal Vermelho


Quase um poema de amor

Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia Rocha, (São Martinho de Anta, Vila Real, 12 de Agosto de 1907 - Coimbra, 17 de Janeiro de 1995) foi um dos mais importantes escritores portugueses do século 20.

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas, ou seja, que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

terça-feira, 18 de maio de 2010

Moedas para o barqueiro

                 
Coletânea de contos fantásticos foi lançada no dia 15 de maio


Foi sábado, 15 de maio, em São Paulo, o lançamento do livro “Moedas para o Barqueiro”, da Editora Andross, onde o confrade Ney Cohen teve o conto "O convite" selecionado para fazer parte dessa coletânea de contos fantásticos, que têm a morte como personagem central.

Além do evento de lançamento, a data também contou com a apresentação de uma peça teatral, "Histórias de Caronte", que adaptou seis contos do livro.
ÚLTIMOS ENSAIOS DA PEÇA HISTÓRIAS DE CARONTE

Se der certo, ou seja, o correio não atrasar, o livro estará a disposição dos convidados no dia 25 de maio, lançamento da 5ª coletânea da Confraria: Tratado acerca das flores.

TRATADO ACERCA DAS FLORES

10 anos da Confraria d'A Cova dos Poetas

No dia 25 de maio a Confraria completa 10 anos e comemora essa data com o lançamento da sua quinta coletânea.


Livro que reúne a poesia de Ney Cohen, Alberto Abadessa, Heliana Barriga, Adina Bezerra, João Bosco e Walcir Monteiro.
Daremos mais informações sobre esse evento oportunamente.

domingo, 2 de maio de 2010

POETAS DO ACRE

Estou em Rio Branco, a bela capital do estado do Acre, e aproveito para ler e sugerir a leitura de alguns poetas acreanos.






SONETO PARA MANOEL DE BARROS

Louvas a corrosão que se mistura
aos nadifúndios ocos. Florescentes
cogumelos rastejam. Pedra escura
tem casaco de bichos reluzentes.

Ali mesmo entre locas e vertentes
pisca um olho que vê, sob a textura
desse chão fermentoso e ruídos quentes,
do lodo humano a exata miniatura.

Claridades, sem dúvida poesia
medra nos ermos; pregos e falenas
juntam-se ao podre e ao sol que dá bom-dia.

Além do mais, és singular e brota
de teu caule de larvas este apenas
fabulário que o tempo não derrota.




CARTAGO FUI EU

Canta um pássaro morto sobre o dia
que a muitos outros já se misturou
algo abaixo dos ramos silencia,
treme a terra na pedra que restou.

Vem de que mares essa nostalgia
que meus ossos fenícios engessou?
De Cartago, talvez, da noite fria
transformada no pássaro que sou.

Esse canto noturno me extenua.
Vem de Cartago, sim; da negra lua
por dono o sol que abrasa, mas festeja.

Esplende a noite em látegos de urtiga.
Brinda-se à morte ao cálice da intriga.
Meu corpo, feito escombros, relampeja.  


O DESENCONTRO

Uma folha tremula
sobre o branco aflitivo dos garfos.

Passado & futuro
são fronteiras de aragem.

Formigas saem das tocas
 ganham asas de louça.

Cristais se fundem
no brinde sem eco.  


FRAGMENTO

À tarde e à noite
o poeta está ausente.
Relógio e calendário
ficaram do avesso.
Ele usa a freqüência dos búzios
e capta as notícias que envelhecem
antes da letra e do chumbo.

Percebe, então, que falta um elo
para cada coisa.

Possivelmente indecifrável.












Dos ipês  

De um amarelo
Impositivo
Flutuante

(cambio, desligo)

As garrafas de fanta
Parecem tão laranja
(ali)

A escada
Tem muitos
(degraus)

Prego
Cada uma
(a seu tempo)
 
  

Laranjas e fantas 

Eu te avisei!
...disse Mário com cara de Maria...
(como se houvesse menos multa
quando se buzina antes de passar o sinal)

Avisou sim é verdade,
mas queria não ser entendido.
Avisou só por desencargo.
E isso não conta.

Disse que o ipê floria,
que era amarelo e só.
Disse que era desse jeito todos os anos,
e que não pensava em mudar.

Mas o ipê muda Mário,
e sou eu
é que estou te avisando.

Há de nascer laranjas nele...

Se não nascer eu mesma subo
e prego umas garrafas de fanta.

Reticências  

Coração estranho  

Um coração estranho
E uma alma
Torta

Um coração
Estranho
E uma alma
Torta

Olha pra mim
Vê o que vês
Olha (!)
É só uma
Alma torta

Do que tens medo
Medo de quê
Sou só mais uma alma
Torta

Aceleração

...é como se tudo tivesse
girando
Um giro calmo
(e calculado)

Um giro bom
(pro mundo)

Mas o mundo
(é grande)
E não precisa de mim
( e de ti)

Mas eu, querida
Eu preciso do mundo
E ele está aí
(flertando)
 





RUY GUILHERME PARANATINGA BARATA

Se Ruy Barata estivesse vivo faria 90 anos no dia 25 de junho, mas, para tristeza da grande pátria Poesia - aquela que não tem fronteiras, nem bandeira, nem muros, nem cercas -, ele morreu no dia 23 de abril de 1990, há vinte anos.
Alguns, que teimam em não aceitar a realidade dos fatos e desconheciam a visão frugal com a qual o Velho Poeta contemplava a morte, insistiriam que ele ainda está entre nós (talvez sentado etereamente numa cadeira do Bar do Parque), mas o trovador Juraci Siqueira nos conta que, numa situação parecida, o próprio Ruy repeliu essa ideia quando uma correligionária de um outro artista paraense recém-falecido invocava-o, como se ainda matéria viva fosse, ao que Ruy, barateando, retrucou, ...mas que ele morreu, morreu!

Então, vamos ouvi-lo:


CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS

Poema, suspende a taça
pelos dias que vivi.
Espelho, diz-me em que jaca
mais fiel me refleti.
Quarenta anos correram
e neles também corri.

Quarenta anos, quarenta!
(Quantos mais inda virão?)
Morrerei hoje de infarto
ou amanhã de solidão?
Serei pasto da malária?
Serei presa do avião?

A morte engendra esperança
A morte sabe fingir.
A morte apaga a lembrança
da morte que vai ferir.
E em cada instante que passa
a morte pode surgir.

Quem pode medir um homem?
Quem pode um homem julgar?
Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar :
naveguei ontem no vento,
hoje cavalgo no mar.

Hoje sou. Ontem, não era.
Amanhã de quem serei?
Um homem é sempre segredos
(Por qual deles purgarei?)
Dos meus netos, qual o neto,
em que me repetirei?

Que virtudes foram minhas?
Que pecados confessar?
Que territórios de enganos
a meus filhos vou legar?
A quem passarei meu canto
quando meu canto passar!

Ah! como a vida é ligeira!
Ah! como o tempo deflui!
Este espelho não mais fala
da criança que já fui,
das minhas rugas ruindo
apenas um nome rui.

Quede rede balançando?
Quede peixinhos do mar?
Quede figo da figueira
pru passarinho bicar?
E o anel que tu me deste
em que dedo foi parar?

Dezembro chama janeiro,
(fevereiro vai chamar?)
Monte-Cristo se me visse
não iria acreditar.
Como está velho, diria
a donzela Dagmar.

Um homem cresce espalhando
— o reino em que foi feliz. —
Onde Athos? Onde Porthos?
Onde o tímido Aramis?
Um homem cresce querendo
e cresce quando não quis.

Crescer é rima de vida
mas também é de morrer.
Crescer é terna ferida
que só dói no entardecer.
Em cada raiz da morte
há sempre um verbo crescer.

E cresço: macho e poeta.
(Subo em linha, volto em cor)
cresço violentamente,
cresço em rajadas de amor,
cresço nos filhos crescendo,
cresço depois que me for.

Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.
                

Mais Ruy >>> http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/ruby_barata.html

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