SONETO PARA MANOEL DE BARROS
Louvas a corrosão que se mistura
aos nadifúndios ocos. Florescentes
cogumelos rastejam. Pedra escura
tem casaco de bichos reluzentes.
Ali mesmo entre locas e vertentes
pisca um olho que vê, sob a textura
desse chão fermentoso e ruídos quentes,
do lodo humano a exata miniatura.
Claridades, sem dúvida poesia
medra nos ermos; pregos e falenas
juntam-se ao podre e ao sol que dá bom-dia.
Além do mais, és singular e brota
de teu caule de larvas este apenas
fabulário que o tempo não derrota.
CARTAGO FUI EU
Canta um pássaro morto sobre o dia
que a muitos outros já se misturou
algo abaixo dos ramos silencia,
treme a terra na pedra que restou.
Vem de que mares essa nostalgia
que meus ossos fenícios engessou?
De Cartago, talvez, da noite fria
transformada no pássaro que sou.
Esse canto noturno me extenua.
Vem de Cartago, sim; da negra lua
por dono o sol que abrasa, mas festeja.
Esplende a noite em látegos de urtiga.
Brinda-se à morte ao cálice da intriga.
Meu corpo, feito escombros, relampeja.
O DESENCONTRO
Uma folha tremula
sobre o branco aflitivo dos garfos.
Passado & futuro
são fronteiras de aragem.
Formigas saem das tocas
ganham asas de louça.
Cristais se fundem
no brinde sem eco.
FRAGMENTO
À tarde e à noite
o poeta está ausente.
Relógio e calendário
ficaram do avesso.
Ele usa a freqüência dos búzios
e capta as notícias que envelhecem
antes da letra e do chumbo.
Percebe, então, que falta um elo
para cada coisa.
Possivelmente indecifrável.
Dos ipês
De um amarelo
Impositivo
Flutuante
(cambio, desligo)
As garrafas de fanta
Parecem tão laranja
(ali)
A escada
Tem muitos
(degraus)
Prego
Cada uma
(a seu tempo)
Impositivo
Flutuante
(cambio, desligo)
As garrafas de fanta
Parecem tão laranja
(ali)
A escada
Tem muitos
(degraus)
Prego
Cada uma
(a seu tempo)
Laranjas e fantas
Eu te avisei!
...disse Mário com cara de Maria...
(como se houvesse menos multa
quando se buzina antes de passar o sinal)
Avisou sim é verdade,
mas queria não ser entendido.
Avisou só por desencargo.
E isso não conta.
Disse que o ipê floria,
que era amarelo e só.
Disse que era desse jeito todos os anos,
e que não pensava em mudar.
Mas o ipê muda Mário,
e sou eu
é que estou te avisando.
Há de nascer laranjas nele...
Se não nascer eu mesma subo
e prego umas garrafas de fanta.
...disse Mário com cara de Maria...
(como se houvesse menos multa
quando se buzina antes de passar o sinal)
Avisou sim é verdade,
mas queria não ser entendido.
Avisou só por desencargo.
E isso não conta.
Disse que o ipê floria,
que era amarelo e só.
Disse que era desse jeito todos os anos,
e que não pensava em mudar.
Mas o ipê muda Mário,
e sou eu
é que estou te avisando.
Há de nascer laranjas nele...
Se não nascer eu mesma subo
e prego umas garrafas de fanta.
Reticências
Coração estranho
Um coração estranho
E uma alma
Torta
Um coração
Estranho
E uma alma
Torta
Olha pra mim
Vê o que vês
Olha (!)
É só uma
Alma torta
Do que tens medo
Medo de quê
Sou só mais uma alma
Torta
E uma alma
Torta
Um coração
Estranho
E uma alma
Torta
Olha pra mim
Vê o que vês
Olha (!)
É só uma
Alma torta
Do que tens medo
Medo de quê
Sou só mais uma alma
Torta
Aceleração
...é como se tudo tivesse
girando
Um giro calmo
(e calculado)
Um giro bom
(pro mundo)
Mas o mundo
(é grande)
E não precisa de mim
( e de ti)
Mas eu, querida
Eu preciso do mundo
E ele está aí
(flertando)
girando
Um giro calmo
(e calculado)
Um giro bom
(pro mundo)
Mas o mundo
(é grande)
E não precisa de mim
( e de ti)
Mas eu, querida
Eu preciso do mundo
E ele está aí
(flertando)
Um comentário:
Olá,sou estudante de Letras do Estado do Amapá, estou fazendo um trabalho de Literatura da Amazônia e gostaria se possível que entrasse em contato comigo, pois meu grupo escolheu suas obras para analisar. Entrar em contato com jessikaluz89@hotmail.com, http://www.facebook.com/jessica.luzdacosta ou 8140-4469
Jessica Luz da Costa
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