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domingo, 2 de maio de 2010

POETAS DO ACRE

Estou em Rio Branco, a bela capital do estado do Acre, e aproveito para ler e sugerir a leitura de alguns poetas acreanos.






SONETO PARA MANOEL DE BARROS

Louvas a corrosão que se mistura
aos nadifúndios ocos. Florescentes
cogumelos rastejam. Pedra escura
tem casaco de bichos reluzentes.

Ali mesmo entre locas e vertentes
pisca um olho que vê, sob a textura
desse chão fermentoso e ruídos quentes,
do lodo humano a exata miniatura.

Claridades, sem dúvida poesia
medra nos ermos; pregos e falenas
juntam-se ao podre e ao sol que dá bom-dia.

Além do mais, és singular e brota
de teu caule de larvas este apenas
fabulário que o tempo não derrota.




CARTAGO FUI EU

Canta um pássaro morto sobre o dia
que a muitos outros já se misturou
algo abaixo dos ramos silencia,
treme a terra na pedra que restou.

Vem de que mares essa nostalgia
que meus ossos fenícios engessou?
De Cartago, talvez, da noite fria
transformada no pássaro que sou.

Esse canto noturno me extenua.
Vem de Cartago, sim; da negra lua
por dono o sol que abrasa, mas festeja.

Esplende a noite em látegos de urtiga.
Brinda-se à morte ao cálice da intriga.
Meu corpo, feito escombros, relampeja.  


O DESENCONTRO

Uma folha tremula
sobre o branco aflitivo dos garfos.

Passado & futuro
são fronteiras de aragem.

Formigas saem das tocas
 ganham asas de louça.

Cristais se fundem
no brinde sem eco.  


FRAGMENTO

À tarde e à noite
o poeta está ausente.
Relógio e calendário
ficaram do avesso.
Ele usa a freqüência dos búzios
e capta as notícias que envelhecem
antes da letra e do chumbo.

Percebe, então, que falta um elo
para cada coisa.

Possivelmente indecifrável.












Dos ipês  

De um amarelo
Impositivo
Flutuante

(cambio, desligo)

As garrafas de fanta
Parecem tão laranja
(ali)

A escada
Tem muitos
(degraus)

Prego
Cada uma
(a seu tempo)
 
  

Laranjas e fantas 

Eu te avisei!
...disse Mário com cara de Maria...
(como se houvesse menos multa
quando se buzina antes de passar o sinal)

Avisou sim é verdade,
mas queria não ser entendido.
Avisou só por desencargo.
E isso não conta.

Disse que o ipê floria,
que era amarelo e só.
Disse que era desse jeito todos os anos,
e que não pensava em mudar.

Mas o ipê muda Mário,
e sou eu
é que estou te avisando.

Há de nascer laranjas nele...

Se não nascer eu mesma subo
e prego umas garrafas de fanta.

Reticências  

Coração estranho  

Um coração estranho
E uma alma
Torta

Um coração
Estranho
E uma alma
Torta

Olha pra mim
Vê o que vês
Olha (!)
É só uma
Alma torta

Do que tens medo
Medo de quê
Sou só mais uma alma
Torta

Aceleração

...é como se tudo tivesse
girando
Um giro calmo
(e calculado)

Um giro bom
(pro mundo)

Mas o mundo
(é grande)
E não precisa de mim
( e de ti)

Mas eu, querida
Eu preciso do mundo
E ele está aí
(flertando)
 





Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,sou estudante de Letras do Estado do Amapá, estou fazendo um trabalho de Literatura da Amazônia e gostaria se possível que entrasse em contato comigo, pois meu grupo escolheu suas obras para analisar. Entrar em contato com jessikaluz89@hotmail.com, http://www.facebook.com/jessica.luzdacosta ou 8140-4469

Jessica Luz da Costa