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quarta-feira, 19 de maio de 2010

5º LIVRO DA CONFRARIA

UMA NOITE, DOIS LIVROS

Acontece no próximo dia 25, às 19h30 o lançamento do 5º livro da Confraria da Cova dos Poetas, "Tratado Acerca das Flores"  junto com o 6º livro do autor Alberto Abadessa, "Terra Movediça". 
A Confraria, renovando sua política de sempre fazer coletâneas, traz dessa vez como convidados autores renomados e com larga experiência na literatura paraense, são eles: Adina Bezerra, Eliana Barriga e Walcyr Monteiro. Os outros autores são os fundadores da Confraria: Alberto Abadessa, Ney Cohen e João Bosco.
O evento é livre para todos que se interessam pela boa literatura feita no nosso estado.

Portal Vermelho


Quase um poema de amor

Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia Rocha, (São Martinho de Anta, Vila Real, 12 de Agosto de 1907 - Coimbra, 17 de Janeiro de 1995) foi um dos mais importantes escritores portugueses do século 20.

Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas, ou seja, que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor

terça-feira, 18 de maio de 2010

Moedas para o barqueiro

                 
Coletânea de contos fantásticos foi lançada no dia 15 de maio


Foi sábado, 15 de maio, em São Paulo, o lançamento do livro “Moedas para o Barqueiro”, da Editora Andross, onde o confrade Ney Cohen teve o conto "O convite" selecionado para fazer parte dessa coletânea de contos fantásticos, que têm a morte como personagem central.

Além do evento de lançamento, a data também contou com a apresentação de uma peça teatral, "Histórias de Caronte", que adaptou seis contos do livro.
ÚLTIMOS ENSAIOS DA PEÇA HISTÓRIAS DE CARONTE

Se der certo, ou seja, o correio não atrasar, o livro estará a disposição dos convidados no dia 25 de maio, lançamento da 5ª coletânea da Confraria: Tratado acerca das flores.

TRATADO ACERCA DAS FLORES

10 anos da Confraria d'A Cova dos Poetas

No dia 25 de maio a Confraria completa 10 anos e comemora essa data com o lançamento da sua quinta coletânea.


Livro que reúne a poesia de Ney Cohen, Alberto Abadessa, Heliana Barriga, Adina Bezerra, João Bosco e Walcir Monteiro.
Daremos mais informações sobre esse evento oportunamente.

domingo, 2 de maio de 2010

POETAS DO ACRE

Estou em Rio Branco, a bela capital do estado do Acre, e aproveito para ler e sugerir a leitura de alguns poetas acreanos.






SONETO PARA MANOEL DE BARROS

Louvas a corrosão que se mistura
aos nadifúndios ocos. Florescentes
cogumelos rastejam. Pedra escura
tem casaco de bichos reluzentes.

Ali mesmo entre locas e vertentes
pisca um olho que vê, sob a textura
desse chão fermentoso e ruídos quentes,
do lodo humano a exata miniatura.

Claridades, sem dúvida poesia
medra nos ermos; pregos e falenas
juntam-se ao podre e ao sol que dá bom-dia.

Além do mais, és singular e brota
de teu caule de larvas este apenas
fabulário que o tempo não derrota.




CARTAGO FUI EU

Canta um pássaro morto sobre o dia
que a muitos outros já se misturou
algo abaixo dos ramos silencia,
treme a terra na pedra que restou.

Vem de que mares essa nostalgia
que meus ossos fenícios engessou?
De Cartago, talvez, da noite fria
transformada no pássaro que sou.

Esse canto noturno me extenua.
Vem de Cartago, sim; da negra lua
por dono o sol que abrasa, mas festeja.

Esplende a noite em látegos de urtiga.
Brinda-se à morte ao cálice da intriga.
Meu corpo, feito escombros, relampeja.  


O DESENCONTRO

Uma folha tremula
sobre o branco aflitivo dos garfos.

Passado & futuro
são fronteiras de aragem.

Formigas saem das tocas
 ganham asas de louça.

Cristais se fundem
no brinde sem eco.  


FRAGMENTO

À tarde e à noite
o poeta está ausente.
Relógio e calendário
ficaram do avesso.
Ele usa a freqüência dos búzios
e capta as notícias que envelhecem
antes da letra e do chumbo.

Percebe, então, que falta um elo
para cada coisa.

Possivelmente indecifrável.












Dos ipês  

De um amarelo
Impositivo
Flutuante

(cambio, desligo)

As garrafas de fanta
Parecem tão laranja
(ali)

A escada
Tem muitos
(degraus)

Prego
Cada uma
(a seu tempo)
 
  

Laranjas e fantas 

Eu te avisei!
...disse Mário com cara de Maria...
(como se houvesse menos multa
quando se buzina antes de passar o sinal)

Avisou sim é verdade,
mas queria não ser entendido.
Avisou só por desencargo.
E isso não conta.

Disse que o ipê floria,
que era amarelo e só.
Disse que era desse jeito todos os anos,
e que não pensava em mudar.

Mas o ipê muda Mário,
e sou eu
é que estou te avisando.

Há de nascer laranjas nele...

Se não nascer eu mesma subo
e prego umas garrafas de fanta.

Reticências  

Coração estranho  

Um coração estranho
E uma alma
Torta

Um coração
Estranho
E uma alma
Torta

Olha pra mim
Vê o que vês
Olha (!)
É só uma
Alma torta

Do que tens medo
Medo de quê
Sou só mais uma alma
Torta

Aceleração

...é como se tudo tivesse
girando
Um giro calmo
(e calculado)

Um giro bom
(pro mundo)

Mas o mundo
(é grande)
E não precisa de mim
( e de ti)

Mas eu, querida
Eu preciso do mundo
E ele está aí
(flertando)
 





RUY GUILHERME PARANATINGA BARATA

Se Ruy Barata estivesse vivo faria 90 anos no dia 25 de junho, mas, para tristeza da grande pátria Poesia - aquela que não tem fronteiras, nem bandeira, nem muros, nem cercas -, ele morreu no dia 23 de abril de 1990, há vinte anos.
Alguns, que teimam em não aceitar a realidade dos fatos e desconheciam a visão frugal com a qual o Velho Poeta contemplava a morte, insistiriam que ele ainda está entre nós (talvez sentado etereamente numa cadeira do Bar do Parque), mas o trovador Juraci Siqueira nos conta que, numa situação parecida, o próprio Ruy repeliu essa ideia quando uma correligionária de um outro artista paraense recém-falecido invocava-o, como se ainda matéria viva fosse, ao que Ruy, barateando, retrucou, ...mas que ele morreu, morreu!

Então, vamos ouvi-lo:


CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS

Poema, suspende a taça
pelos dias que vivi.
Espelho, diz-me em que jaca
mais fiel me refleti.
Quarenta anos correram
e neles também corri.

Quarenta anos, quarenta!
(Quantos mais inda virão?)
Morrerei hoje de infarto
ou amanhã de solidão?
Serei pasto da malária?
Serei presa do avião?

A morte engendra esperança
A morte sabe fingir.
A morte apaga a lembrança
da morte que vai ferir.
E em cada instante que passa
a morte pode surgir.

Quem pode medir um homem?
Quem pode um homem julgar?
Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar :
naveguei ontem no vento,
hoje cavalgo no mar.

Hoje sou. Ontem, não era.
Amanhã de quem serei?
Um homem é sempre segredos
(Por qual deles purgarei?)
Dos meus netos, qual o neto,
em que me repetirei?

Que virtudes foram minhas?
Que pecados confessar?
Que territórios de enganos
a meus filhos vou legar?
A quem passarei meu canto
quando meu canto passar!

Ah! como a vida é ligeira!
Ah! como o tempo deflui!
Este espelho não mais fala
da criança que já fui,
das minhas rugas ruindo
apenas um nome rui.

Quede rede balançando?
Quede peixinhos do mar?
Quede figo da figueira
pru passarinho bicar?
E o anel que tu me deste
em que dedo foi parar?

Dezembro chama janeiro,
(fevereiro vai chamar?)
Monte-Cristo se me visse
não iria acreditar.
Como está velho, diria
a donzela Dagmar.

Um homem cresce espalhando
— o reino em que foi feliz. —
Onde Athos? Onde Porthos?
Onde o tímido Aramis?
Um homem cresce querendo
e cresce quando não quis.

Crescer é rima de vida
mas também é de morrer.
Crescer é terna ferida
que só dói no entardecer.
Em cada raiz da morte
há sempre um verbo crescer.

E cresço: macho e poeta.
(Subo em linha, volto em cor)
cresço violentamente,
cresço em rajadas de amor,
cresço nos filhos crescendo,
cresço depois que me for.

Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.
                

Mais Ruy >>> http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/ruby_barata.html

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