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domingo, 2 de maio de 2010

RUY GUILHERME PARANATINGA BARATA

Se Ruy Barata estivesse vivo faria 90 anos no dia 25 de junho, mas, para tristeza da grande pátria Poesia - aquela que não tem fronteiras, nem bandeira, nem muros, nem cercas -, ele morreu no dia 23 de abril de 1990, há vinte anos.
Alguns, que teimam em não aceitar a realidade dos fatos e desconheciam a visão frugal com a qual o Velho Poeta contemplava a morte, insistiriam que ele ainda está entre nós (talvez sentado etereamente numa cadeira do Bar do Parque), mas o trovador Juraci Siqueira nos conta que, numa situação parecida, o próprio Ruy repeliu essa ideia quando uma correligionária de um outro artista paraense recém-falecido invocava-o, como se ainda matéria viva fosse, ao que Ruy, barateando, retrucou, ...mas que ele morreu, morreu!

Então, vamos ouvi-lo:


CANÇÃO DOS QUARENTA ANOS

Poema, suspende a taça
pelos dias que vivi.
Espelho, diz-me em que jaca
mais fiel me refleti.
Quarenta anos correram
e neles também corri.

Quarenta anos, quarenta!
(Quantos mais inda virão?)
Morrerei hoje de infarto
ou amanhã de solidão?
Serei pasto da malária?
Serei presa do avião?

A morte engendra esperança
A morte sabe fingir.
A morte apaga a lembrança
da morte que vai ferir.
E em cada instante que passa
a morte pode surgir.

Quem pode medir um homem?
Quem pode um homem julgar?
Um homem é terra de sonhos,
sonho é mundo a decifrar :
naveguei ontem no vento,
hoje cavalgo no mar.

Hoje sou. Ontem, não era.
Amanhã de quem serei?
Um homem é sempre segredos
(Por qual deles purgarei?)
Dos meus netos, qual o neto,
em que me repetirei?

Que virtudes foram minhas?
Que pecados confessar?
Que territórios de enganos
a meus filhos vou legar?
A quem passarei meu canto
quando meu canto passar!

Ah! como a vida é ligeira!
Ah! como o tempo deflui!
Este espelho não mais fala
da criança que já fui,
das minhas rugas ruindo
apenas um nome rui.

Quede rede balançando?
Quede peixinhos do mar?
Quede figo da figueira
pru passarinho bicar?
E o anel que tu me deste
em que dedo foi parar?

Dezembro chama janeiro,
(fevereiro vai chamar?)
Monte-Cristo se me visse
não iria acreditar.
Como está velho, diria
a donzela Dagmar.

Um homem cresce espalhando
— o reino em que foi feliz. —
Onde Athos? Onde Porthos?
Onde o tímido Aramis?
Um homem cresce querendo
e cresce quando não quis.

Crescer é rima de vida
mas também é de morrer.
Crescer é terna ferida
que só dói no entardecer.
Em cada raiz da morte
há sempre um verbo crescer.

E cresço: macho e poeta.
(Subo em linha, volto em cor)
cresço violentamente,
cresço em rajadas de amor,
cresço nos filhos crescendo,
cresço depois que me for.

Cresço em tempo e eternidade,
cresço em luta, cresço em dor,
não fiz meu verso castrado
nem me rendo ao opressor,
cresço no povo crescendo,
cresço depois que me for.
                

Mais Ruy >>> http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/para/ruby_barata.html

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