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terça-feira, 31 de março de 2009

Imperdível!


O caboclo poeta, boto emprenhador de sonhos, que há trinta anos singra os rios das letras amazônicas, levando sua canoa sob um remo de escrita fantástica, arribando em portos onde muito navegador não consegue permissão para aportar, aportou novamente. E nos traz duas (duas?!), é isso mesmo! O Poeta Antonio Juraci nos apresenta duas novas crias, dois livros editados pela Paka-Tatu, onde reúne poemas e trovas de livros já editados artesanalmente, acrescidos de novos trabalhos. Incêndios e Naufrágios e Canto Caboclo estão com data de lançamento para o dia 1º de abril, no Teatro Estação Gasômetro, Parque da Residência, a partir das 18 horas.

Imperdível!

Poeta... Um cão vadio... A voz do sino

POETA

Que coisa estranha é o poeta?
E o carrega no peito
que o força, sempre, a cantar?
Um ninho de marimbondos,
um cão vadio, uma estrela,
uma rosa, uma navalha,
uma vitrola, um vulcão?
E de que é feito o poeta
que quando morre, não morre
como qualquer ser mortal?
Será que é feito de sombra,
de pedra, luz, nuvem, vento,
fogo, gelo, sofrimento
ou tão somente de amor?
As mil vozes do poeta
são mesmo dele ou são ecos
das vozes de todos nós?
Voz de sino, de cigarra,
sirene, metralhadora,
voz de trovão, passarinho,
de trombeta, bandolim?...
Mas importa que ele seja
anjo, demônio, palhaço,
verdugo, réu ou juiz?
Ou basta, apenas, que traga
a sina de jardineiro
para semear palavras
nos corações dos mortais?

AVE, POETA!!!

Antônio Juraci Siqueira

quinta-feira, 26 de março de 2009

livro para pescaria com linha de horizonte


E por falar em livro...

Estive esta noite no lançamento do livro para pescaria com linha de horizonte, (o título é assim mesmo, escrito tudo em minúsculas), do escritor paraense Paulo Vieira, com ilustrações de D'arcy Albuquerque.

É um livro especial, tanto pelo conteúdo, como pela impressão, feita simultaneamente em tinta e em braile, numa edição cercada de esmero. Abaixo, transcrevo a resenha do livro que pode ser encontrado no site da Livraria Embrapa.

Um detalhe: Eu já havia recebido, através de um e-mail do autor, o convite para a noite de autógrafos e, no dia anterior, estava asssistindo a entrevista sobre o livro no Sem Censura Pará, quando me ocorreu de ligar e fazer uma pergunta ao entrevistado - e dessa forma participar do sorteio que fariam de um exemplar no final do programa (claro que, com a sorte que tenho, a possibilidade era ínfima de eu ser o sorteado)...

- E não é que ganhei!


Leiam a resenha


Árvores tagarelas, árvores gigantes, árvores com cabeças e cabeleiras verdes são os personagens da viagem pelo mundo das palavras, proposta na obra Livro para pescaria com linha de horizonte, de Paulo Vieira, lançado para o público infanto-juvenil que enxerga com os olhos da imaginação. Editado em braille, pela Embrapa Informação Tecnológica, a publicação tem 80 páginas pelas quais os pequenos leitores recebem um convite para pescar estrelas, conversar com pássaros, formigas e vários entes da natureza, em uma homenagem à Amazônia. O livro, importante instrumento de educação ambiental, foi o Destaque no 4º. Prêmio da Casa da Cultura Mário Quintana, em 2006.

terça-feira, 24 de março de 2009

Elza, a garota

Abaixo, transcrevo a introdução da entrevista feita pelo jornalista Luciano Trigo, na coluna Máquina de Escrever, do G1, com o escritor Sérgio Rodrigues, autor do livro "Elza, a garota", que mesmo antes do lançamento oficial (nesta quinta-feira, dia 26, no Rio de janeiro) já se tornou alvo de discussões acaloradas sobre ações políticas imprudentes (condenáveis), tanto da esquerda, quanto da direita no Brasil.


Um cadáver incômodo

Sérgio Rodrigues resgata a história de Elza, a garota executada pelo PCB após o fracasso da Intentona ComunistaElvira Cupelo Colônio, codinome Elza Fernandes, tinha 16 anos quando foi presa, em janeiro de 1936, com seu companheiro, o dirigente do PCB Antonio Maciel Bonfim, o “Miranda”, na onda repressora que o Governo Vargas desencadeou após o fracasso da Intentona Comunista. Libertada poucos dias depois, foi barbaramente assassinada: estrangulada, teve seu corpo mutilado e enterrado no quintal de uma casa no subúrbio do Rio. Cumpria-se assim a sentença do “tribunal vermelho” formado para julgá-la por uma suposta delação. Os poucos historiadores que abordaram o episódio garantem que a ordem para a execução partiu de Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, num bilhete escrito de próprio punho. Por ironia da História, poucos anos mais tarde a companheira de prestes, Olga Benário, seria vítima de outro crime hediondo, este bem mais conhecido e divulgado. Ao decidir desenterrar o cadáver de Elvira em seu novo livro, Elza, a Garota (Nova Fronteira, 240 pgs.R$29,90) o jornalista e escritor Sérgio Rodrigues sabia que estava mexendo num vespeiro - e que correria o risco de desagradar boa parte da esquerda. Misturando ficção e pesquisa histórica, Sérgio escreveu uma obra que vai muito além da denúncia política. Mesmo assim, uma mensagem fica clara para os leitores: a estupidez ignora ideologias.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Francisco Buarque de Hollanda

"Leite Derramado" é o título do novo livro de Chico Buarque

O compositor, cantor e escritor Chico Buarque lança no final deste mês seu novo livro "Leite Derramado".
O romance se passa no Rio de Janeiro e tem aproximadamente 200 páginas.
As informações foram divulgadas nesta segunda-feira pelo site da editora Companhia das Letras. O livro anterior de Chico, "Budapeste" (2003), também foi lançado pela mesma editora. O romance ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de 2003.
"Budapeste" está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Walter Carvalho. No elenco, estão Leonardo Medeiros e Giovanna Antonelli. A Cia. das Letras lançou também os livros "Estorvo" (1991) e "Benjamin" (1995).

domingo, 1 de março de 2009

Noite de Carnaval



O amigo Dário Azevedo, professor universitário, pesquisador e articulador político, assume sua veia literária em alguma hora vaga, vaga hora, dentro das madrugadas insones ou dias de feriados chuvosos e inspiradores. Publicou em 1999 o livro de poemas "Cartas aos Sábios", em edição do autor, e integrou a coletânea de contos "Vôo Noturno", editado pela Confraria d'A Cova dos Poetas, em 2004. Atendendo a pedidos, gentilmente, ele nos encaminhou o texto abaixo para ser publicado neste espaço.

Sirvam-se!

Noite de Carnaval

Já era quase noite, nossos corações pulsavam na extremidade da rua onde os foliões pareciam todos solitários, morinbundos, escravos de suas estupidez, por culparem-se do que arrogantemente não fizeram. No fundo, escondiam a solidão; terço de cada dia em suas alcovas, e riam narcisicamente entre si; todos refletidos nos espelhos de suas vontades reprimidas e das liberdades cortadas as asas por caprichos e sem juizo em meio ao glamour das luzes, da terça-feira gorda. Já era quase noite, quando resolvemos tomar nossos porres, ouvindo marchinhas e olhando fixamente ao momo com seu coração congelado pela ilusão de seu reinado que declinava na apoteose com a chegada do dia. Onde a rua e seus foliões estavam órfãos, pois já era hora da labuta, solitário o terço se partia, pois que a liberdade de cada um, tornou-se escrava da insuportável realidade com seus paradoxos. Tudo passou a ser descompassos e morbidez descendo a avenida e seguindo até os becos sem luzes, onde os nanicos ainda gemiam de fome com suas vias crusis. Já era fim de noite, todos dormiam com a canção do silêncio na madrugada cansada da folia , somente os infelizes de alma riscavam as paredes dos quartos resmungando de sua sorte, a solidão sem esperança velada por nossos impulsos suicidas, davam risos de despedidas, enquanto o tempo declinava ébrio cúmplice de nós, e certo de que éramos iguais a outros vagantes bichos das esquinas, notívagos foliões enfeitando a solidão de pierrot e a tristeza transparente de colombinas, enquanto a noite dormindo com o leve vento da brisa que plumavam com paetês, o último suspiro do carnaval que passou.

Dário Azevedo.