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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Marta Nassar

Marta Nassar é cineasta, produtora e diretora de três filmes de curta metragem premiados no Brasil, Naiara, a mulher gorila, Quero ser anjo e Origem dos Nomes. Escreveu a apresentação do último livro da Confraria d'Cova dos Poetas, No além, todos não morrem. Agora, deixa os roteiros um pouquinho de lado e incursiona numa seara de "estranhamento" - a poesia.

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ESTRANHAMENTO


Amo tudo o que estranho
Tudo o que sinto e no qual
Não me reconheço
Obscura, desconhecida entranha
O sentir, o devir
Percepção fragmentada
Tudo o que não entendi
Só porque amo
Prolongar sem fim

Marta Nassar

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NOIVA CELESTIAL

Ama
Crê e espera
Deitada em relva azul
Dos sonhos teus.

No verde da lagoa
Imagina tuas núpcias
Em sétima atmosfera
Em tecido de faíscas
Desenhadas pelo sol
Em águas tremulantes.

O enfeite da cabeça
São os cisnes deslizantes
Nada
Pode ser
Mais deslumbrante.

Rainha
Completos os teus dias em áreas de palácios
Conforta a ti mesma
No aconchego do perdão
Pois sabe que
Nada foi por tua culpa
E exprime um ânimo anormal.

Noiva celestial

Ama
Crê e espera
Eternamente, comprometida
Com o sagrado
Jogo mágico
Da vida.

Marta Nassar

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Na casa de Rubem Alves



Quarto de badulaques (I)




- TERRORISMO: Soube, pela TV, que o problema mais grave de uma campanha militar terrestre no Afganistão se deve ao fato de que há milhões de minas explosivas enterradas em todo o país, resultado de muitos anos de guerra. Como é que elas foram parar lá? Não foram fabricadas pela ciência e pelas fábricas do Afganistão, posto que não as há. Foram fabricadas pelas indústrias do Ocidente Cristão e vendidas. Venda de armas é um negócio muito lucrativo. Os países militarizados, todos eles, sem exceção, vendem armas para os países pobres. Armas são vendidas para matar. As minas, quando não matam, aleijam. Vocês já devem ter visto, na televisão, crianças africanas sem pernas e braços. Assim, os países ricos do Ocidente ficam mais ricos do que são vendendo armas aos países pobres. E depois reclamam por serem odiados. Os terroristas aceitam morrer para matar. As indústrias bélicas do Ocidente ficam ricas para matar. Quem são os terroristas? Sacos de farinha de trigo não compensam o estrago que já se fez.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

De Poeta e Louco...

"Poesia e música melhoram a rotina no CAPS Renascer
Da RedaçãoAgência Pará

Terapia em grupo, caminhadas ao ar livre e oficinas de artesanato fazem parte da rotina dos 350 usuários do Centro de Atenção Psicossocial Renascer (CAPS Renascer), localizado no bairro do marco, em Belém. Uma nova modalidade de terapia tem agradado a quem necessita de atenção especial por ser portador de algum transtorno mental: a poesia e a música. Na manhã de toda segunda-feira, os usuários participam de oficinas de poesias, entrando em contato com a cultura literária. O projeto "De poeta e louco todo mundo tem um pouco" prevê um sarau a cada três meses e visitas a espaços culturais públicos, uma vez a cada mês.
Na quinta-feira (16) o CAPS Renascer realizou o I Sarau Cultural, que contou com o apoio de cantores regionais e poetas paraenses, como Juraci Siqueira e Wanilze Oliveira. Os músicos tornaram o clima festivo e os poetas declamaram poemas e falaram de suas vidas aos usuários, que também mostraram seus talentos, revelados nas oficinas de poesias semanais.¨


A Confraria d'A Cova dos Poetas congratula-se com as coordenadoras do projeto, a psicóloga da Secretaria de Saúde Pública (Sespa), Andrezza Carvalho, e a assistente social Luzia Matos, pela iniciativa e faz votos que ela sirva de modelo para outros centros semelhantes espalhados pelo Brasil e pelo mundo. A apresentação desse projeto no Congresso Norte e Nordeste de Psicologia terá uma boa repercussão. Com certeza!

E como é verdade absoluta que de poeta e louco todos nós temos um pouco, trago para leitura um célebre poema de William Blake, poeta inglês que viveu entre os anos de 1757 e 1827, considerado um louco pelos seus contemporâneos e que admitia essa loucura como o seu refúgio.



O Tigre

tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?

de que abismo ou céu distante
vem tal fogo coruscante?
que asas ousa nesse jogo?
e que mão se atreve ao fogo?

que ombro & arte te armarão
fibra a fibra o coração?
e ao bater ele no que és,
que mão terrível? que pés?

e que martelo? que torno?
e o teu cérebro em que forno?
que bigorna? que tenaz
pro terror mortal que traz?

quando os astros lançam dardos
e seu choro os céus põem pardos,
vendo a obra ele sorri?
fez o anho e fez-te a ti?

tigre, tigre, chama pura
nas brenhas da noite escura,
que olho ou mão imortal cria
tua terrível simetria?

William Blake
Tradução de Vasco Graça Moura

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Walcyr Monteiro

Não são somente as "Visagens e Assombrações de Belém" que seguem os passos do escritor Walcyr Monteiro, claro! Têm "As incríveis histórias do caboclo do Pará", que ele conta como ninguém e tem, também, "Cosmopoemas" e "Miscelânea ou Vida em Turbilhão", livros de poemas, vários, que o poeta chama carinhosamente de "rabiscos".

Vamos ler um desses "rabiscos"?

Visita
À Eliana Franco

E eis que a poesia entrou cárcere adentro.
As paredes tornaram-se seios acolhedores
e as barras de ferro mãos amigas.

De repente,
A incoloridade da solidão
sob a luz do amor-poema
tornou-se arco-íris.

A solidão ficou menos só.

Os quadrados das grades
pareceram versos
cantando
a Fraternidade Universal
que virá...

Walcyr Monteiro
Belém, 5ª Cia de Guardas, 01:30hs.
06 de abril de 1967

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Emily Dickinson


Amanhã, 14 de abril, mais uma palestra do programa Oito Escritoras Kamikazes, desta vez sobre a escritora estadunidense Emily Dickinson (às 19 horas, no Sendú - Instituto de Psicologia da Amazônia , na Trav. São Francisco, nº. 233 B, entre Avertano Rocha e Tamandaré - Belém/PA. Maiores informações pelos telefones 3222.0038 ou pelo e-mail sendu.ipa@gmail.com).


245


Tive uma jóia nos meus dedos —
E adormeci —
Quente era o dia, tédio os ventos —
"É minha", eu disse —

Acordo — e os meus honestos dedos
(Foi-se a Gema) censuro —
Uma saudade de Ametista
É o que eu possuo —

Tradução: Augusto de Campos


245

I held a Jewel in my fingers —
And went to sleep —
The day was warm, and winds were prosy —
I said "'Twill keep" —

I woke — and chid my honest fingers,
The Gem was gone —
And now, an Amethyst remembrance
Is all I own —

....................................................................


1212

Uma palavra morre
Quando é dita —
Dir-se-ia —

Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia.

Tradução: Aíla de Oliveira Gomes


1212

A word is dead
When it is said,
Some say.

I say it just
Begins to live
That day.

Teatro de Vanguarda


quinta-feira, 2 de abril de 2009

Ciclo Escritoras Kamikazes

Adélia Prado, Alice Ruiz, Ana Cristina César, Emily Dickinson, Inês Pedrosa, Katherine Mansfield, Maria Teresa Horta e Sylvia Plath: escritoras que foram suicidas seja em suas obras, seja na vida real, ou em ambos os casos. Mas suas vozes particulares e universais, seu profundo envolvimento com as palavras, tudo isso continua vivo.
Pela importância dessas mulheres e de suas obras, o professor Rodrigo Barata ministra a partir de hoje o ciclo Escritoras Kamikazes, que vai tratar dos livros, analisar os seus estilos e divulgar a biografia de cada uma. O primeiro encontro, sobre Adélia Prado, acontece hoje, às 19h, no Instituto de Psicologia da Amazônia (Sendú).
O curso é voltado a estudantes de Letras e Psicologia, mas também a amantes da poesia. Dentre elas, diz Rodrigo, não houve nenhuma que não tivesse se arriscado, profanado normas, erotizado dogmas, fugido aos padrões. “Nem todas se suicidaram realmente, mas elas cometeram outros tipos de suicídio”, diz Rodrigo Barata. Para ele, Emily Dickinson é uma das mais marcantes. “Ela cometeu um suicídio social: passou 30 anos isolada, sem falar com ninguém. Mesmo assim, as obras dela foram publicadas”, comenta. No caso da Maria Teresa Horta, o suicídio se deu quando ela decidiu expor sua intimidade por meio das poesias.
“Ela era extremamente erótica, muitas vezes até pornográfica. Maria Teresa só não foi apedrejada, mas foi bastante recriminada pela sociedade da época”. Outra que também sofreu por falar de sua intimidade foi Adélia Prado. “Ela era uma singela dona-de-casa, que morava no interior de Minas Gerais e que escrevia sobre amor, sexo e religiosidade”.
Para maiores informações: 3222-0038.

Texto extraído hoje do site - http://www.diariodopara.com.br/noticiafull.php?idnot=36810

Camões

Esta eu tirei do blog do meu amigo Matos, que visito regularmente.

O Vestibular da Universidade da Bahia cobrou dos candidatos a interpretação do seguinte trecho do poema de Camões:

'Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente,
é um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer'


Uma vestibulanda de 17 anos deu a sua interpretação :

'Ah, Camões!,
Se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos, uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador, consultavas a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!'


A Vestibulanda ganhou nota DEZ, pela originalidade, pela estruturação dos versos, e das rimas insinuantes. Foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos,alguém desconfiou que o problema de Camões era apenas falta de mulher.


Aqui vai o soneto por inteiro:

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?