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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

7 ou 12 de janeiro: qual a maior data cívica de Belém?

Recebi este e-mail do poeta e amigo Juraci Siqueira e de forma (in)escrupulosa resolvi publicá-lo aqui. É imprescindível que conheçamos a nossa história para que nos orgulhemos da nossa terra, do nosso povo e da nossa cultura.


7 ou 12 de janeiro:
           qual a maior data cívica de Belém?


No próximo dia 12 de janeiro estaremos comemorando os 396 anos de fundação de Belém. Mas quantos terão lembrado do 7 de janeiro e do que ele representa para o sentimento nativista do povo paraense? Em verdade, que outra data representa melhor a soberania e o orgulho de nossa gente? Enquanto a primeira marca o início de nossa colonização, a segunda representa o desabrochar do sentimento nativista, da luta do povo por justiça e liberdade. Primeiro em 7 de janeiro de 1619 quando Guaymiaba, cacique tupinambá, tomba ao lado de dois mil guerreiros ante as muralhas do Forte do Presépio na vã tentativa de libertar Belém de mãos tiranas. Depois, nomesmo dia do ano de 1835,a Cabanagem, a mais genuína revolução popular do Brasil, sagrou-se vitoriosa em seu primeiro embate contra a tirania.Aqui, os dois episódios da nossa tão mal contada História que muitos fazem questão de esconder...


VÔO ENTRE ARMAS I


Era sete de janeiro.
De quando em vez um banzeiro
rebentava na muralha
antecipando a batalha
contra o Forte do Castello
primeiro e mortal duelo
na Belém recém-nascida
precocemente envolvida
em sua casta inocência
nos lençóis da violência.


Era janeiro. Chovia.
Céu escuro, manhã fria
com feição de luto e medo.
vez por outra do arvoredo
um agourento chincoã
engravidava a manhã
com seu canto mandingueiro.


Era sete de janeiro...
Do Piri as verdes margens
escondiam nas ramagens
guerreiros Tupinambá,
angelins do Grão Pará
pintados de amor e guerra,
de revolta e bem querer
para lutar pela terra
ou sobre a terra morrer.


Belém nem tinha três anos
e já registrava os danos
de um batismo a ferro e fogo
no brutal e eterno jogo
entre opressor e oprimido
entre mocinho e bandido
entre balas carniceiras
e taquaras justiceiras,
bordunas de redenção
contra espadas de opressão!


Tomba o grande Guaymiaba,
cacique Tupinambá
e longa noite desaba
sobre Belém do Pará.


Cai por terra Guaymiaba
mas a luta não acaba
naquele triste janeiro.
Em cada peito guerreiro
as sementes da igualdade,
da justiça e liberdade
germinam feito capim
à espera de um dia, além,
que a rosa rubra do povo
desabrochasse de novo
nos canteiros de Belém.






VÔO ENTRE ARMAS II


Manhã sem luz, sem cor, sem poesia...
De quando em vez do matagal se ouvia
o agourento cantar de um chincoã.


Era o sétimo dia de janeiro.
Na muralha o marulho do banzeiro
embalava Belém que ainda dormia.


A história se repete. Nada é novo.
Mesmo palco de luta, mesmo povo
mesmos tiranos, mesmos ideais.


E Guymiaba após duzentos anos
renasce e luta ao lado dos cabanos
fundido ao lema vencer ou vencer!


A luta é desigual: artilharias
contra espingardas, ódio e tirania
contra o ideal e a fome de justiça!


A história desta vez não se repete:
Belém, cansada, nesse dia sete,
adormece nos braços do seu povo.

Com um abraço cabano do
Antonio Juraci Siqueira

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