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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

POESIA ERÓTICA

Estou em mãos com o livro Poesia Erótica em tradução de José Paulo Paes, "poeta ensaísta e experiente tradutor, esta antologia percorre vários séculos da produção do que de melhor e mais representativo existe na poesia erótica do Ocidente", é o que afirma o texto que se encontra na 4ª capa do livro, bom e barato, diga-se de passagem, editado pela Companhia das Letras, em 2006. Estão presentes na antologia "desde autores da Antiguidade até contemporâneos, como Catulo, Ovídio, Arentino, Ronsard, Rousseau, Goethe, Whitman, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Apollinaire, D. H. Laurence e Neruda...", continua o texto, que faz menção ainda ao conteúdo de um breve ensaio do tradutor, que vale muito a pena se lido. Vou publicar aqui alguns desses poemas eróticos, não para excitar nenhum dos frequentadores desse blog, efeito mais afeito à literatura pornográfica "no seu comercialismo rasteiro", como nos ensina o competente tradutor, que afirma que "a literatura erótica, conquanto possa eventualmente suscitar efeitos desse tipo, não tem neles a sua principal razão de ser. O que ela busca, antes e acima de tudo, é dar representação a uma das formas da experiência humana: a erótica". 

DA ANTOLOGIA GREGA

(Automédon e Rufino)



AUTOMÉDON


Louvo a bailarina da Ásia que com seus gestos lascivos
     suavemente ondula desde a ponta dos dedos.
Não a louvo porque exprima todas as paixões movendo,
     assim com tanta graça, os braços graciosos,
mas porque sabe dançar à volta de uma vara exânime,
     sem que a ponham em fuga as rugas da velhice.
Excita, abraça, beija: com sua língua e suas pernas,
     faz qualquer vara erguer-se, nem que seja do Hades.

                                                   Livro V, epigrama 129






RUFINO



Três beldades me escolheram para julgar-lhes as nádegas
          a mim mostradas no esplendor da nudez.
As de uma, florescendo em alvuras veludosas, estavam
          marcadas ambas por covinhas graciosas;
a nívea carne das de outra, a de pernas abertas, tinha
         rubor mais forte que a púrpura da rosa;
as da terceira, calmaria sulcada de ondas mudas,
         palpitavam suaves ao seu próprio impulso.
Se o juiz das deusas, Paris, tivesse visto estas nádegas,
        Não quereria saber de mais nenhuma.

                                                 Livro V, epigrama 35





DA PRIAPÉIA

(Priapéia é o nome dado ao conjunto de poemas sobre Priapo, deus grego da fertilidade, filho de Dionísio e Afrodite. Era sempre representado com o falo ereto.)



VI

Ameaça de Priapo a uma jovem


Conquanto Priapo de madeira eu seja,
madeira a foice, como vês,  o pênis,
vou te  agarrar e segurar bem firme
e todo em ti, por longo que ele seja,
mais tenso do que a corda de uma cítara,
até suas costelas vou cravá-lo.



XVIII

A vantagem do pênis de Priapo


Leva a maior das vantagens o meu pênis:
             para mim mulher alguma é larga.




LA FONTAINE


EPIGRAMA


Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.



ARENTINO


VIGÉSIMA QUARTA DÚVIDA


         Hortência quis dar gosto ao seu amante
E o lugar mais mimoso do seu corpo
Franqueou-lhe, mas o fez prometer antes
Que do seu grande nabo só um pouco
Ali poria. E eis que ele, não obstante
A promessa, no furor do gozo,
Põe-lhe tudo no rabo. Utrum Hortência
Poderá acusa-lo de violência?




APOLLINAIRE


A VASELINA


              Praça da Ópera: por uma farmácia adentro
Entra um senhor bem-posto feito um pé de vento:
“Estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina.”
Gentil, o boticário indaga do cliente
Impaciente
A que uso se destina
O graxo ingrediente:
“Se for para o rosto, é melhor levar da fina...
Qual?
Que tal
Este artigo
Que o senhor, sem perigo,
Pode no rosto usar?
Eu por mim recomendo sempre a boricada.”
E o cliente a bufar: “Mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”

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