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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eucanaã Ferraz

O equilibrista



Traz consigo resguardada
certa idéia que lhe soa
clara, exata.


No entanto, hesita: que palavra
a mais bem medida e cortada
para dizê-la?


Enquanto não lhe vem o verso, a frase, a fala,
segue lacrada a caixa
no alto da cabeça.


in Rua do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
in Rua do mundo. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2007.

 
Lugarejo



O trem muge o longe.
Os vagões levam toneladas de horas
e astros enferrujados.


Bicho de ferro atravessando
a facão o lombo do dia, enchendo
de metálica melodia a vida
dos homens dali.



in Livro primeiro. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1990.


A palma da tua mão não tem segredo...



A palma da tua
mão não tem segredo
algum. Letra em tua mão
é de nome nenhum.
Não há mistério nem mensagem
no lenho aleatório.


Tua mão tem destino noutras palmas.
Confidência, piedade, ira. Deixa que,
aberta, distribua-se ao ponto – à perfeição –
de não ser mais tua mão: pátio,
pouso necessário de quem jamais te viu.



in Dessassombro. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2001.
in Dessassombro. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 2002.


Ver mais: http://www.eucanaaferraz.com.br/

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