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segunda-feira, 15 de abril de 2013

César Vallejo

OS ARAUTOS NEGROS


Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei!
Golpes como do ódio de Deus; como se ante eles
a ressaca de quanto foi sofrido
se empoçara na alma... Eu nem sei!

São poucos, porém são... Abrem sulcos escuros
no rosto mais fero e no lombo mais forte.
Serão talvez os potros de bárbaros átilas;
ou os arautos negros que nos manda a Morte.

São as caídas fundas dos Cristos da alma,
de alguma fé adorável que o Destino blasfema.
Esses golpes sangrentos são as crepitações
de algum pão que na porta do forno se queima.

E o homem... Pobre... pobre! Volve os olhos, como
quando por sobre os ombros nos chama uma palmada;
volve os olhos loucos, e todo o vivido
se empoça, como charco de culpa, na mirada.

Há golpes na vida tão fortes... Eu nem sei!


Tradução de Fernando Mendes Vianna




PEDRA NEGRA SOBRE UMA PEDRA BRANCA

Morrerei em Paris com aguaceiro
num dia do qual trago aqui a lembrança.
Morrerei em Paris — e eu não corro —
talvez na quinta, como hoje, de outono.

Será quinta, pois hoje, quinta, que proso
estes versos, os húmeros tenho postos
no malote e, jamais me vi, quanto hoje,
desde que venho vindo, tanto a sós.

Morreu César Vallejo, lhe batiam
todos sem que lhes fizesse nada;
pegavam duro com um pau e duro

também com um açoite; testemunham
as quintas feiras e esses ossos húmeros,
a solidão, a chuva, os caminhos...


Tradução Amálio Pinheiro


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