Anteontem
Saíste
apressado do teu barraco
Tua
mãe perguntou aonde ias
Nada
disseste
Era
noite:
-
Menino,
olha o que tu vai fazer!
Alertou
aflito o coração de mãe
Encontraste
um amigo
Bebeste
com ele
Brincaste
Lançaste
a proposta
Tiraste
um sarro:
-
Covarde, bundão!
-
Tá bem, vamu lá!
Ele
disse
Alugaste
o trinta e oito
Na
mesma boca de fumo do Rubião:
-
Devolve rapaz, senão és defunto!
-
Deixa comigo!
Disseste
É
parada dada
Não
tem o que errar
Passaste
na casa da Deuzimar
Trocaste
uns beijinhos
Teu
parceiro tava suando
-
É onze hora, cumpadre!
-
Vai querer fuder?
Sorriste
pra ele
Pegaste
o camelo
Ele
subiu na garupa
-
Não te afoba
-
É parada dada
-
É dia de pagamento
-
A Moça tá buiada
-
Não tem o que errar
Chegaste
na Quintino
Faltava
pouco
Era
quase meia-noite
Tu
tava de mutuca
-
É parada dada
- É só esperar
Olhaste
pro canto não viste a moça
Viste
a patrulha em ronda inesperada
Procuraste
abrigo num canto escuro
Seguraste
o trabuco sem pensar
O
teu comparsa fugiu numa pisada
Ficaste...
Reagiste...
Ontem
Eu
vi a tua foto
Derramando
sangue no jornal
Eras
conhecido da polícia
Tinhas
passagem na 1ª Zpol
-
Elemento perigoso!
Dizia
o policial
Olhei
teu rosto de menino
Dormindo
no chão do beco
Perigo
se havia não há mais
Não
há mais passado
Não
há mais futuro
O
Rubião perdeu a arma
E
o vício, um viciado
A
moça nem soube do acontecido
Dormiu
na casa do namorado
A
tua mãe inconsolada chora
Junto
aos teus irmãos espantados
Hoje
Foste
enterrado
No
Cemitério Municipal do Tapanã
João
Rosa Laranjeira, 19 anos
Assim
dizia, seco
O
obituário.
Ney Cohen
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