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quarta-feira, 8 de julho de 2009

Mario Benedetti - Por que cantamos


A minha solidariedade a esse amigo que não conheço, Lúcio Flávio Pinto, vai em forma de um poema de um outro amigo, Mario Benedetti, que também não conheci, falecido recentemente. (Yo tengo tantos hermanos/Que no los puedo contar - Atahualpa Yupanqui)

Por que cantamos

Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos

se nossos bravos ficam sem abraço

a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

se estamos longe como um horizonte

se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro

você perguntará por que cantamos

cantamos porque o rio esta soando

e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino

cantamos pela infância e porque tudo

e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não basta

e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota

cantamos porque o sol nos reconhece

e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta

cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.

Mario Benedetti
Poema extraído do site :
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=10056

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro amigo
Nada existe de mais subversivo do que a poesia. Logo que chegam ao poder os ditadores tratam logo de mandar prender os poetas. Depois, os jornalistas. Poesia e jornalismo juntos significa vida. A viva que se vive arriscando-se, desafiando os ditadores. Os que assumem o poder político ou os que querem controlar as mendes e os destinos. Viajo na insubmissão da poesia com a sua ajuda e solidariedade. Muito obrigado. Grande abraço, Lúcio Flávio Pinto