A Confraria d'A Cova dos Poetas comemora no próximo ano dez anos de existência. Dois mil e dez - 2000 e 10 - dois números cabalísticos. Essa Confraria, fundada oficialmente em 2000, a partir do lançamento do seu 1º livro - A cova dos poetas -, surgiu com a ideia de dar vazão a uma produção literária engavetada por anos, de pessoas comuns, obscuras até: funcionários, operários, engenheiros, odontólogos, atendentes, agrônomos... A cada novo lançamento, novos autores a ter seus quinze minutos de fama. E o que é mais importante: uma produção literária vindo à tona, boiando e sobrevivendo num rio imenso - Pará - de turbulências e profundidade enormes, onde quem não dá pé e não tem pique pra nadar e nadar acaba se afogando. E quem não se afogou, gostou, ficou e tá aí até hoje, comemorando conosco o lançamento do quinto livro - Tratado acerca das flores - o terceiro de poesia. São seis autores, três confrades reminiscentes (Alberto Abadessa, João Bosco e Ney Cohen) e três confrades convidados (Adina Bezerra, Walcyr Monteiro e Heliana Barriga), e aproximadamente 70 poemas, que poderão ser lidos em outubro (previsão não otimista).
Estamos todos convidados. Então, vamos brindar!
CIO
Adina Bezerra
Acordo inquieta na madrugada
Não compreendo o que quero
Sinto meu corpo incendiar
Parecem chamas do inferno
Na intensidade do calor
Um forte cheiro exala
Oriundo de minhas entranhas
Percebo-me devassa
Sinto-me uma leoa no cio
Querendo sua presa alcançar
No encanto - magia de bicho
Em verde mata a decantar.
A TINTURARIA FICA EM FRENTE À CASA
Alberto Abadessa
Pobre é o pé - a planta racha à fome e à fé Heliana Barriga
A palma e pobre e aclama forte
À contramão jurando sobre
Pobre cobre o corpo
O papelão
Pobre é a pá
Asa abortada
Fechada ao elevador
Rodoviária porto metrô coreto praça
A rua é minha casa
Minha extensão e graça!
Pobre é o pênis
A derramar pobres meninos
Perdidos podres prostrados
Pobre é o pensar
De poucos
À progressão
De pobrestação.
Eu sou o quinto cavaleiro do apocalipse
Vago sob a quinta lua em eterno eclipse
Na quinta estação do ano hiberno.
E sonhos me revelam segredos dos céus e inferno.
Sou eu o quinto dos elementos naturais
O ideal ponto quinto dos cardeais
Detrás da quinta lua de Júpiter assisto
O conflito cósmico entre Io e Calisto.
Eu sou o quinto ícone animal do oriente
Com asas de fogo, o quinto ser vivente
O humano quinto erro nitzscheniano
Fardo humano, demasiado humano
Sou eu o quinto santo evangelista
A quinta-essência niilista
Sobre a quinta letra do deus morto blasfema
O verso quinto, a quinta estância desse poema.
A tinturaria fica em frente à casa
Às 19 horas uma bela mulher
Fica despida, seio ereto
Olhos virtuosos
Lábios carnudos
Vê em frente à tinturaria e a
Delícia dos meus olhos
Tento telefonar, não telefono.
Tento gritar de um sexo
Desesperado
Não grito
Sou um covarde
Não resta a menor dúvida do
Covarde, o que faço?
Líquido, som,
A insensatez de dormir
Esperando
A tinturaria fechar
Na noite seguinte...
Pobre é o pé - a planta racha à fome e à fé Heliana Barriga
A palma e pobre e aclama forte
À contramão jurando sobre
Pobre cobre o corpo
O papelão
Pobre é a pá
Asa abortada
Fechada ao elevador
Rodoviária porto metrô coreto praça
A rua é minha casa
Minha extensão e graça!
Pobre é o pênis
A derramar pobres meninos
Perdidos podres prostrados
Pobre é o pensar
De poucos
À progressão
De pobrestação.
O QUINTO LADO DO QUADRADO
Ney Cohen
Eu sou o quinto cavaleiro do apocalipse
Vago sob a quinta lua em eterno eclipse
Na quinta estação do ano hiberno.
E sonhos me revelam segredos dos céus e inferno.
Sou eu o quinto dos elementos naturais
O ideal ponto quinto dos cardeais
Detrás da quinta lua de Júpiter assisto
O conflito cósmico entre Io e Calisto.
Eu sou o quinto ícone animal do oriente
Com asas de fogo, o quinto ser vivente
O humano quinto erro nitzscheniano
Fardo humano, demasiado humano
Sou eu o quinto santo evangelista
A quinta-essência niilista
Sobre a quinta letra do deus morto blasfema
O verso quinto, a quinta estância desse poema.
Origem, voltar-me
numa mulher
adolesceu desconhecido
adolescente na beleza
na mulher
adolescente na beleza
da mulher que amava
sorria
de esperança
de indiferença
Encantado, não vacilou
mergulhou
até esvaziar a enchente
plenitude
o amor
Abandonado, não arriscou
não desejou
esvaziou o que era plenitude
não era
o amor
João Bosco
Foi criançanuma mulher
adolesceu desconhecido
adolescente na beleza
na mulher
adolescente na beleza
da mulher que amava
sorria
de esperança
de indiferença
Encantado, não vacilou
mergulhou
até esvaziar a enchente
plenitude
o amor
Abandonado, não arriscou
não desejou
esvaziou o que era plenitude
não era
o amor
NO RIO DE MEUS AMORES
Walcyr Monteiro
Maria caiu
No rio de meus amores
Nada, Maria, nada!
Maria afogou
No rio de meus amores
Nada, Maria, nada!
Maria saiu
Do rio de meus amores
Viva, Maria, viva!
Que aconteceu
No rio de meus amores?
Tudo, Maria, tudo
Nada, Maria, nada
No rio de meus amores
Maria foi quase tudo
Maria foi quase nada
O que ficou
No rio de meus amores?
Tudo, Maria, tudo
Nada, Maria, nada!
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