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domingo, 1 de março de 2009

Noite de Carnaval



O amigo Dário Azevedo, professor universitário, pesquisador e articulador político, assume sua veia literária em alguma hora vaga, vaga hora, dentro das madrugadas insones ou dias de feriados chuvosos e inspiradores. Publicou em 1999 o livro de poemas "Cartas aos Sábios", em edição do autor, e integrou a coletânea de contos "Vôo Noturno", editado pela Confraria d'A Cova dos Poetas, em 2004. Atendendo a pedidos, gentilmente, ele nos encaminhou o texto abaixo para ser publicado neste espaço.

Sirvam-se!

Noite de Carnaval

Já era quase noite, nossos corações pulsavam na extremidade da rua onde os foliões pareciam todos solitários, morinbundos, escravos de suas estupidez, por culparem-se do que arrogantemente não fizeram. No fundo, escondiam a solidão; terço de cada dia em suas alcovas, e riam narcisicamente entre si; todos refletidos nos espelhos de suas vontades reprimidas e das liberdades cortadas as asas por caprichos e sem juizo em meio ao glamour das luzes, da terça-feira gorda. Já era quase noite, quando resolvemos tomar nossos porres, ouvindo marchinhas e olhando fixamente ao momo com seu coração congelado pela ilusão de seu reinado que declinava na apoteose com a chegada do dia. Onde a rua e seus foliões estavam órfãos, pois já era hora da labuta, solitário o terço se partia, pois que a liberdade de cada um, tornou-se escrava da insuportável realidade com seus paradoxos. Tudo passou a ser descompassos e morbidez descendo a avenida e seguindo até os becos sem luzes, onde os nanicos ainda gemiam de fome com suas vias crusis. Já era fim de noite, todos dormiam com a canção do silêncio na madrugada cansada da folia , somente os infelizes de alma riscavam as paredes dos quartos resmungando de sua sorte, a solidão sem esperança velada por nossos impulsos suicidas, davam risos de despedidas, enquanto o tempo declinava ébrio cúmplice de nós, e certo de que éramos iguais a outros vagantes bichos das esquinas, notívagos foliões enfeitando a solidão de pierrot e a tristeza transparente de colombinas, enquanto a noite dormindo com o leve vento da brisa que plumavam com paetês, o último suspiro do carnaval que passou.

Dário Azevedo.

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