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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

FUNARTE e a Bolsa de Criação Literária 2009

A Fundação Nacional de Artes (Funarte) divulgou a lista dos 10 autores contemplados com a Bolsa de Criação Literária 2009. Cada um deles receberá prêmio no valor de R$ 30 mil. Por meio desta iniciativa, a Fundação impulsiona a produção de textos literários inéditos, oferecendo a escritores de todo o país condições materiais para que possam desenvolver seus trabalhos.

Nesta terceira edição do programa, foram recebidos 1.046 projetos. A análise do material coube a uma comissão externa, composta por cinco membros de notório saber na área literária: Ângela Dionísio Paiva, Márcio Araújo de Melo, Regina Lúcia Péret Dell'Isola, Álvaro Costa e Silva Filho e Elga Ivone Perez Laborde Leite. Durante o processo seletivo, foram julgadas a originalidade do projeto, a qualidade da proposta e a metodologia do trabalho.

Em breve será anunciada uma relação de contemplados suplentes, beneficiados por um aporte extra de recursos que o Ministério da Cultura destinará à Fundação.

Os contemplados da região norte foram Edgar Jesus Figueira Borges, com o projeto Sem grandes problemas e Isadora Octavia Frederica Augusta Avertano Rocha, com Invasão pret-à-porter.

O Edgar Borges é jornalista, cronista, com aspirações de ser poeta. Radicado em Boa Vista - Roraima.

"Ganhar um prêmio, independente de qual fosse o valor, era uma das minhas metas para este ano. Depois de algumas participações sem êxito em festivais de música, concursos de poesia e de provimento de vagas (em busca de um salário maior), a bolsa da Funarte reergue meu orgulho índio e me estimula a continuar escrevendo micronarrativas (ou microcontos, outro nome que se dá à mesma levada literária que apresentei como proposta ao pessoal de Brasília)."  (Ver mais em http://edgarb.blogspot.com/)

Já a paraense Isadora é advogada e neta de Avertano Rocha, ex-presidente da Academia Paraense de Letras e filha do também acadêmico Octavio Avertano Rocha, ocupante da cadeira nº 37 daquela instituição.

domingo, 18 de outubro de 2009

Abílio Pacheco - Riscos no barro: ensaios literários




Recebi, e quero compartilhar com os amigos da Confraria, o e-mail do escritor Abílio Pacheco que fala sobre premiação recebida em concurso nacional e do lançamento do seu próximo livro Riscos no barro: ensaios literários.
Parabéns ao Abílio por mais essas vitórias e peço licença para publicar aqui o seu poema premiado Escrituras.


"Boa noite,

Mais uma vez venho compartilhar com você uma alegria em literatura.
A Editora Litteris enviou-me correspondência informando que meu poema "Escritura" foi classificado em segundo lugar nacional no no Concurso Literário Brasil Poeta.
O primeiro lugar ficou com Fabiana Guaranho (do Rio de Janeiro) e o terceiro lugar com Fernando de Castro Dutra (de Águas Claras - DF).
O poema pode ser lido em http://mosaicoprimevo.wordpress.com/2009/01/22/escritura/ e a correspondência enviada pode vista em: http://abiliopacheco.wordpress.com/files/2009/10/litteris-concurso.jpg.
Aproveito o ensejo para comunicar que estou com um novo trabalho no prelo (capa em anexo), com lançamentos previstos:
* na Jornada de Letras em Abaetetuba (dia 03 de novembro); * na XIII Feira PanAmazônica do Livro (11 de novembro às 19:00 no stand do escritor paraense); * e na XI Feira do Livro em Marabá (de 26 a 28 de novembro).
Trata-se de um livro de ensaios destinado principalmente a alunos de graduação em Letras e tem textos resultados de pesquisa de Iniciação Científica e outros escritos durante o Mestrado em Estudos Literários.
O livro se chama Riscos no barro: ensaios literários que versam sobre: *autor, *narrador, *narratário, *sobre o romance 'O Minossauro', do paraense Benedicto Monteiro, *sobre 'Lucíola', de José de Alencar, e *3 ensaios sobre Chico Buarque (o mais importante: À urbes buarqueanas: das cidades utópicas à distopia singular).
O livro no(s) lançamento(s) custará na feira R$ 25,00.
Interessados em adquirir um exemplar na pré-venda (R$ 20,00) devem enviar email para riscosnobarro@bol.com.br e solicitar informações.
Saudações Literárias,
Abilio Pacheco
www.abiliopacheco.com.br"







Escritura
A Eliton Moreira e Ademir Braz


Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.


É ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E extrair exangues lascas — vergões por dentro e por fora.


É talhar a cerrados pulsos as pedras finas, mas duras.
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
É um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.


Mas é preciso fazê-lo! Alguém deve abrir as ostras
Abismadas em seu peito para juntá-las a outras
Iguais na casca e no meio, mesmo que estejam ocas.


Por fim: crer que vale a pena mineralizar as lavras
Como fulcros ao poema e inertes todas deixá-las
Inativas pelas fendas — palavras amortalhadas.


Para que tu, só tu possas sugar o cerne dos versos
Acumulados em poças pelos teus olhares tétricos
Que desmineram as horas e se desmentem eternos.


In: Pacheco, Abilio. Mosaico Primevo. Belém: Ed. do autor, 2008, pág. 15.

sábado, 17 de outubro de 2009

Os 50 autores mais influentes do século XX e o que aprendemos (ou devíamos ter aprendido) com eles

Ernest Hemingway
Gabriel Garcia Marques
James Joyce
Carl Segan
Italo Calvino
Franz Kafka
Salman Rushdie
Jorge Luis Borges
Pablo Neruda
J. K. Rowling
...
Veja a lista completa elaborada por José Mário Silva em http://sapoblogs.do.sapo.pt/ler/autoresinfluentes.pdf

Arménio Vieira




O poeta Arménio Vieira recebeu em junho deste ano o Prêmio Camões, prêmio  criado em 1988 pelos governos português e brasileiro e que distingue todos os anos escritores dos países lusófonos.
Vamos conhecê-lo um pouquinho mais...


Arménio Vieira – liberdade e coerência na poesia do poeta-gato cabo-verdiano
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Vieira nasceu na Praia, ilha de Santiago, em 29/01/1941. Foi integrante da geração dos anos 1960 da poesia cabo-verdiana. Geração marcada por uma poesia de revolta e combate ao governo colonial português, à época sob a ditadura salazarista, tendo participado do histórico suplemento “Seló” (1962). Pelo seu envolvimento com a luta de libertação da nação cabo-verdiana amargou dois anos de enclausuramento nas cadeias da PIDE, a polícia política portuguesa. Talvez por isso a opção por um sujeito lírico transfigurado em “touro onírico”, irônico, extremamente irreverente e libertário como era o desejo em ver sua pátria independente, indignado com os desvios éticos de seus contemporâneos: “e lá no alto, rente ao tecto / fazer chichi na presunção / de tantas bestas juntas / santos beatos e jumentos” (Poemas, p. 37).
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Quiproquó

Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.


Fábula de Esopo

Um touro, ignorante de cabeça,
mas rijo de couro e carcaça,
quis ser elefante

Engoliu vento, inflou...
e já feito imenso balão
(de meter medo à selva e ao leão)
deu um estouro e tombou

Um elefante, por ali vagabundo,
esfregou os olhos, descrendo,
e foi acordar em cima dum ouriço-cacheiro

Uma rã pulou à loja, defronte,
e coaxou ao caixeiro:
– Faça favor de me vender um foguete!


CANTO FINAL OU AGONIA DUMA NOITE INFECUNDA
.
Como a flor cortada rente e desfolhada 
ou os olhos vazados da criança 
e o seu fio de pranto tênue e impotente 
assim a noite caminha com os astros todos em vertigem
até que se atinge o ponto da mudez 
a pesada mó triturando a sílaba 
a garganta com as cordas dilaceradas 
e uma lâmina ácida e pontiaguda enterrada ao nível da carótida
 

Entenda-se isto como noite e o seu transe derradeiro 
tanto assim que a flor desfeita 
não embala o coração do poeta 
oh não
porque a flor defunta 
se voa
não sobe nunca
e só dura
o espaço breve duma nota


Assim o canto se detém imóvel 
como se da flauta 
falhando súbito 
na boca do poeta 
ficasse o hiato 
ou a saliva
de um tempo devassado por insectos cor de cinza

A voz suspensa e negada

cede a vez à letra amorfa
inscrita no silêncio
com seu peso
de chumbo e olvido
acaba o poema
e um ponto final selando tudo.