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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Affonso Romano de Sant`anna - Duas crônicas e um poema


Os poetas não devem ser levados a sério


Enquanto escuto o último tiroteio na favela ao lado, recebo de Alberto Dines, que criou na Internet o vigilante "Observatório da Imprensa", um artigo publicado no "The Economist", de Londres, intitulado "Injustiça poética"; um artigo tão instigante que Daniel Piza o republicou na seção de cultura da "Gazeta Mercantil". Vejam só: "The Economist" e a "Gazeta", jornais voltados para a política econômica, falando de economia poética.
O autor anônimo daquele ensaio fala de um paradoxo: ao mesmo tempo em que, de um lado, parece haver um desprestígio editorial e mercadológico dos poetas, por outro lado, "Len Fulton, da Dustbooks, que publica a 'Small Press Review', recebe livros de 300 novas pequenas editoras e outras 300 novas revistas todos os meses. Muitas pequenas editoras não sobrevivem por muito tempo. Mas mais de 1.400 revistas e 800 pequenas editoras duram o tempo suficiente para chegar ao 'Catálogo de Editoras de Poesia' bienal de Fulton.".
Nota-se que quadruplicou o número de cursos de criação literária nos Estados Unidos. Hoje são 285 universidades com 11 mil estudantes nessa área, a metade dedicada à poesia. Há mais de 200 festivais de poesia de cowboys nos Estados Unidos e viraram moda, recentemente, uns torneios poéticos onde dois poetas se desafiam, em nove rounds, lendo um poema cada um, até o confronto de um poema improvisado no final. Quem ganha leva um cinturão de peso-pesado, como nas lutas de boxes. E as pessoas pagam até US$ 20 para assistir a esse pugilato poético.
Vejam que coincidência. E quando as coincidências começam a coincidir muito deixam de ser simples coincidência para serem sintomas. Isto tanto com os tiroteios quanto com a poesia. Nesses dias recebi de Alberto Carvalho - um intelectual finíssimo lá de Aracaju, que tem coleções de revistas raras como a "Senhor" e que adquire qualquer livro bom que surja em qualquer parte - recebi, repito, um CD intitulado "A voz, o poema", com obras de 35 poetas sergipanos. Sim, senhores, de Sergipe. E embora em matéria de Nordeste, como Chirac e Reagan, que trocam o presidente do Brasil pelos do México e da Bolívia, troquemos Aracaju por Maceió ou Natal, eu lhes garanto: a poesia está viva e muito bem, lá em Sergipe.
Estou no meu escritório, diante do crepúsculo. Já escutei o tiroteio das cinco e, antes que comece o tiroteio da sete na favela ao lado, deixo fluir verdades na boca da noite e começo a ouvir vozes desse CD de poesias que me veio de Sergipe. Uma diz: "Um louco colhe amoras amarelas na varanda do hospício antes que um guarda com boca de dragão descerre a cortina da noite".
Quantas mulheres neste disco! Que bom! Uma delas revela que, enquanto preparava a comida da família, "só tia Ester sabia pôr compressas na própria dor". E outra voz de homem acrescenta: "Quando o dia chegou, com suas aves peraltas na lapela, a cidade sorriu acanhada, dois poetas marrons assoaram o nariz". Mas o poema termina com essa frase irônica e problemática: "Os poetas não devem ser levados a sério".
Se não devem ser levados a sério, por que "The Economist" e a "Gazeta Mercantil" estão preocupados com a poesia? E se a poesia é dispensável, porque há milhares de anos milhões de pessoas a praticam, e agora ela chegou airosamente também à Internet?
Alguns de vocês já ouviram falar de Soares Feitosa. Com uma pertinácia rara, alheio às convenções dos grupinhos literários, ele está colocando na Internet não só a poesia de poetas vivos, mas todo Camões, Augusto dos Anjos e outros tantos, e está fazendo sozinho o que entidades governamentais e universidades não fazem.
No artigo do "The Economist", no entanto, faltou analisar isto: a invasão da Internet por parte dos poetas. Estão eles passando por cima das editoras e livrarias, unindo o que há de mais primitivo e tribal ao que há de mais avançado tecnologicamente.
Há um mistério com a poesia, vocês sabem. E quando havia no país não só menos tiroteio, mas menos cronistas e mais crônica, Rubem Braga fez uma intitulada "O mistério da poesia", tentando entender por que o verso do colombiano Aurélio Arturo, "Trabajar era bueno en el sur, cortar los arboles, hacer canoas de los troncos", não lhe saía da cabeça e de onde vinha a sua poesia.
Em 1962 - quando 99% de vocês não haviam nascido, publiquei, como estudante, meu primeiro livrinho, "O desemprego do poeta" - que tinha tudo a ver com o que se disse antes. Lá anotava uma frase de João Cabral, nos anos 40, que dizia que os poetas deveriam se utilizar da tecnologia da época: o rádio. Infelizmente ele não a utilizou. Depois veio a televisão. De minha parte, experimentei o rádio e a TV, sobretudo quando Dilea Frate e Alice Maria ousadamente me aliciaram para tal. Hoje o CD e a Internet são dois instrumentos que caíram nas mãos dos poetas. Acabo de receber uma antologia de poetas de Maui - uma daquelas ilhas perdidas no Pacífico - e, de Juiz de Fora, Iacyr Freitas promete-me um CD. De Brasília, chega-me uma nova e promissora revista dedicada à tradução de poetas estrangeiros e divulgação de brasileiros, "Gargula".
Entrementes, ouço formidáveis tiroteios na favela ao lado. Há uma semana que não nos deixam dormir e saímos à rua com a alma agachada, humilhados. Minha vizinha mostra-me a bala que caiu no seu quarto depois de varar a esquadria de alumínio e ricochetear pelas paredes fazendo buracos e quebrando quadros.
E do disco de poesia saí uma voz que diz: "Um dia adormeci cansado de tudo, quando acordei, Deus e o circo não estavam mais na minha cidade.".


Mas pode-se ensinar alguém a ser escritor?

A PUC de Belo Horizonte convidou sete escritores (Luiz Vilela, Sérgio Sant'Anna, Marina Colasanti, Antonio Cicero, Humberto Werneck, Miguel Sanchez Neto e a mim) para darmos uma "oficina de literatura" durante todo o ano de 2003. Os alunos podem optar e articular os módulos das "oficinas" de acordo com sua conveniência. Quando se fala numa iniciativa como essa, a primeira pergunta que surge é: "Mas pode-se ensinar alguém a ser escritor?". Resposta: "Pode-se ensinar uma série de técnicas, pode-se passar uma série de vivências, pode-se desenvolver o talento. Quanto ao mais, depende de cada um. Depende não só do talento inato, mas da perseverança e da neurose destrutiva ou construtiva de cada um".
No caso da poesia, a questão é ainda mais singular. Embora todos digam "minha vida daria um romance" pouquíssimos se lançam à aventura de escrever um romance. Mas baseadas no ditado - "de médico, poeta e louco todos nós temos um pouco" - as pessoas, num determinado momento, sobretudo na juventude, devem ter composto um poema qualquer. Nada contra quem faça seus poemas para uso familiar, publicitário ou para se expressar. Contudo, quanto a se assumir como poeta, são necessários alguns cuidados e providências. A primeira é não apenas começar a ler bons poetas, mas inteirar-se que existe um sistema literário, com regras e leis, as quais temos que conhecer, nem que seja para contestá-las. Assim, é imprescindível saber como funciona o sistema de produção (edição, divulgação, direitos, políticas literárias, agente literário, prêmios, etc.) e ler livros que, expondo a experiência de autores, mapeiem o processo de criação.
No caso da poesia, para começar, dois livros de Ezra Pound - "ABC da literatura" e "A arte da poesia". É autor didático e polêmico. Pode-se depois discordar dele em algumas coisas, como o fiz no ensaio "O que fazer de Ezra Pound?". Mas há que atravessá-lo primeiro. Leia também "Como fazer versos", de Maiakovski. Embora ele tivesse que dar satisfações políticas aos dirigentes da revolução comunista de 1917, há experiências pessoais interessantes. O compêndio "Vanguarda européia e modernismo brasileiros", organizado por Gilberto Mendonça Telles, é fundamental para que se tome conhecimento dos manifestos literários nos últimos cento e poucos anos. É imprescindível saber o que cada escola, época ou geração definia como sendo poesia. O ensaio de Edgar Allan Poe "Filosofia da composição" é importante para se ver como o autor explica racionalmente a elaboração de seu famoso poema "O corvo". Uma edição recente desse texto e do poema, com diversas traduções do mesmo, organizada por Ivo Barroso, retoma uma experiência que fizemos na revista "Poesia sempre". Ver como poetas traduzem diferentemente um poema, é uma aula de poesia.
Algumas leituras iniciáticas são ainda necessárias: de Octávio Paz - "O arco e a lira" e "Signos em rotação". O poeta mexicano reinstala a poesia na história da cultura. Ler "Homo Ludens", de Huizinga, especialmente os capítulos "O jogo e a poesia" e "A função da forma poética". Procure os ensaios de T. S. Eliot, poeta que soube articular a tradição e a inovação. Evidentemente que sempre se lerá "Cartas a um jovem poeta", de Rilke, mas as cartas de Mário de Andrade, em geral, sobretudo as escritas a Fernando Sabino, "Cartas a um jovem escritor", são importantes. E nunca esquecer do despretensioso "Itinerário de Pasárgada", onde Manuel Bandeira faz algumas revelações sobre seu métier de poeta. E se quer saber de certos recursos e segredos estilísticos de Drummond, Cabral e outros, leia "Esfinge clara e outros enigmas", onde Othon M. Garcia exibe o que é uma análise estilística e temática. Colocaria aí até o "Pequeno dicionário de arte poética", de Geir Campos, uma maneira leve de tomar contato com técnicas intemporais. Lembro-me sempre de Manuel Bandeira me indagando quando, adolescente o fui visitar, se já havia feito algum soneto na vida. Era uma maneira de saber se a pessoa estava inteirada da tradição e de certas questões de técnica do verso.
Diria que isto é uma pequeníssima cesta básica. Para começar. Não se deve confundir oficina literária com curso de teoria. Evidente que o aprendizado é interminável. Ainda agora estava relendo "The life of the poet", do ensaísta americano Lawrence Lipking, que desenvolve a tese que os poetas sempre retomam ou contestam o projeto de outros poetas, num processo edipiano de negação e auto-afirmação. Goethe rejeita Virgílio, Whitman rejeita Goethe e Virgílio, Mallarmé reverencia Poe, etc. A história da poesia é um tocante e tenso diálogo entre poetas de épocas diversas, além de um mágico diálogo com o público. Por isto é necessário assenhorar-se do que já foi feito.
E nisto há um mistério. Mistério que Rubem Braga muito bem surpreendeu na crônica "O mistério da poesia". Dizia que não sabia porque tinham ficado na sua cabeça os versos de um poeta, que ele julgava ser boliviano, mas, na verdade, era o colombiano Aurélio Arturo . Volta e meia, quando estava aborrecido ou viajando, surgia esse murmúrio dentro dele: "Trabajar era bueno en el Sur. Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos". E ele pôs-se a indagar qual o mistério dessas palavras tão simples que o alimentavam. Experimentou invertê-las, mudar o tempo verbal, tirar uma, botar outra, mas nenhuma forma lhe pareceu tão tocante quanto essa. E anotou: "Talvez o que impressione seja mesmo isso: essa faculdade de dar um sentido solene e alto às palavras de todo dia".
E terminando ele a sua crônica e eu a minha, uso as palavras do cronista-poeta, que me dispensam de certos comentários: "Fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas.".


Assombros


Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.


Mais Affonso Romano de Sant`anna

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Poesia em Tela


A exposição Poesia em Tela inicia na segunda-feira, dia 3, no Auditório do Prédio dos Mercedários, situado na Rua Gaspar Viana, 125, Comércio, e encerra dia 7, quando ocorre, no mesmo lugar, o recital de poesias Poeta Enluarado, do Poeta Rui do Carmo.
Programação imperdível!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

CURIOSIDADES LITERÁRIAS nº 02


Augusto dos Anjos

Há uma história estarrecedora — embora não comprovada — em torno do soneto "A Árvore da Serra". Conta-se que Augusto dos Anjos teria se apaixonado por uma jovem retirante, filha de um vaqueiro. Isso era simplesmente intolerável para a família de Augusto, dona de engenho de açúcar. A mãe dele teria mandado dar uma surra na moça, que estava grávida (do poeta?), e então abortou e morreu. Alguns especialistas na obra de Augusto dos Anjos interpretam o soneto "A Árvore da Serra" não como uma cena ecológica, mas como a transposição, em versos, dessa história tenebrosa. Dizem que o amargor e o pessimismo de Augusto vêm daí. Conta-se também que o pai, no episódio, teria ficado ao lado de Augusto, mas era dominado pela mãe. Para esses especialistas, isso também explicaria por que o poeta escreveu vários textos citando o pai e nunca falou sobre a mãe. Então, a árvore cortada seria a amada do poeta. E o próprio Augusto é que se teria abraçado àquele tronco "e nunca mais se levantou da terra". Consta também que, embora não haja registro histórico, o caso era de amplo conhecimento na região. (História retirada de dois artigos que estão no site do Jornal de Poesia, citado por Carlos Machado em seu site http://www.algumapoesia.com.br/)

A ÁRVORE DA SERRA

— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

VENCEDOR

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração — estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pôde domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho "Pau d'Arco", em Paraíba do Norte, a 20 de abril de 1884, e morreu em Leopoldina (Minas Gerais) a 12 de novembro de 1914. Em 1907, bacharelou-se em Letras, na Faculdade do Recife, e, três anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu durante algum tempo o magistério. Do Rio, transferiu-se para Leopoldina, por ter sido nomeado para o cargo de diretor de um grupo escolar. Morreu nessa cidade, com pouco mais de trinta anos. Apesar da sua juventude, os padecimentos físicos tinham-lhe gravado no semblante profundos traços de senilidade. Augusto dos Anjos publicou quase toda a sua obra poética no livro "Eu", que saiu em 1912. O livro foi depois enriquecido com outras poesias esparsas do autor e tem sido publicado em diversas edições, com o título Eu e Outros Poemas. Se bem que nos tivesse deixado apenas este único trabalho, o poeta merece um lugar na tribuna de honra da poesia brasileira, não só pela profundidade filosófica que transpira dos seus pensamentos, como pela fantasia de suas divagações pelo mundo científico. São versos que transportam a dor humana ao reino dos fenômenos sobrenaturais. Suas composições são testemunhos de uma primorosa originalidade.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Poesia no Hotel Ver-o-Peso

Encontro de poesia e arte no Hotel Ver-o-Peso

Hoje é quinta-feira e todas as quintas acontece o encontro de poesia, patrocinado pelo Movimento Literário Extremo Norte, no Hotel Ver-o-Peso.
A Confraria d'A Cova dos Poetas se faz presente nesses encontros desde quando eles aconteciam no Espaço Cultural Xibé com Arte, passando pelo Kasulo Bar e, mais recentemente, na Livraria Jinkings.
É um momento de relaxamento, quando os deuses das dominações cotidianas se distraem e as ninfas se põem a alegrar e a inspirar corações poetas e até não poetas, mas que se exultam naquela atmosfera de confraternização, paz e harmonia.
O encontro é aberto a qualquer pessoa e livre para todos aqueles que queiram apresentar sua poesia ou outra manifestação artística: música, dança, contação de histórias, etc.
O Hotel Ver-o-Peso fica na Av. Castilho França, 208, em frente ao nosso cartão postal de mesmo nome e os saraus das quintas começam por volta das 7 horas da noite.
Vão lá conferir!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Antônio Juraci Siqueira


"Dia 28 estarei completando 60 voltas em torno do sol. É tempo de prestar contas do que me foi dado plantar e colher no roçado da existência".

Com estas palavras, acabo de receber o convite para a comemoração do aniversário do nosso queridíssimo Poeta.
O Jura está no restrito rol das unanimidades literárias do nosso estado.
O fez por merecer.
Pelo muito de cultura que já plantou, sob sol e chuva, há muito que o que produz deixou de ser apenas um roçado para se tornar uma imensa lavoura que sacia a fome de todos aqueles que buscam sonho, alegria e conhecimento.
Faço votos para que dessa colheita, que já é farta, não só para o Juraci, mas para todos nós, leitores, continuemos desfrutando junto a esse lendário trovador amazônico, ainda por muitos e muitos anos.
Parabéns Poeta!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Feliz Regina declamando...

O confrade Tito, atento à impossibilidade de encontrar os poemas da Claire Regina Feliz no site do Gilberto Dimenstein, colou em seu comentário os poemas.
Escutem!

Feliz Regina

A funcionária da Receita Federal, Claire Feliz Regina, além de ser uma especialista no IRPF e estar na ativa, agora , aos 80 anos resolveu escrever um livro sobre poesias.
No dia 1º de outubro ela foi entrevistada pela rádio CBN por Gilberto Dimenstein e Herodoto Barbeiro e na Rádio Bandeirantes pelo Jornalista Milton Parron.
Abaixo a matéria da Folha (1/10/2008 )

GILBERTO DIMENSTEIN
Feliz Regina
Ao completar 79 anos, ela se propôs a escrever um livro sobre relacionamentos; em vez de prosa, saíram versos

QUEM VISSE aquela senhora de 80 anos declamando, olhar malicioso, versos sensuais, num teatro lotado de jovens, não imaginaria sua história de vida. Nos últimos 50 anos, a auditora fiscal Claire Feliz Regina trabalha na Receita Federal, onde se especializou em imposto de pessoa física. Não pensava em se aposentar até o ano passado, quando, por acaso, descobriu uma nova paixão. "Minha vida será agora dedicada à poesia."
Ao completar 79 anos, ela se propôs a escrever um livro com dicas sobre como melhorar o relacionamento familiar e amoroso. Mas, em vez de prosa, saíram versos -e, com eles, vieram a vontade da aposentadoria, para iniciar uma experiência.

Como nasceu numa família pobre, Claire teve de trabalhar desde menina em Campo Grande (MS), vendendo mercadorias de porta em porta. Mudou-se para São Paulo e, em 1958, entrou como escriturária na Receita Federal. Aos 37 anos, começou a estudar economia, aos 50 foi promovida a auditora fiscal e se especializou em Imposto de Renda de pessoa física, convidada a dar aulas e palestras. Sua trajetória seguia a previsibilidade burocrática, como se seguisse um formulário.
Teve medo de romper a rotina -e desse medo nasceu sua primeira e, por muito tempo, única poesia. Depois de ficar viúva, Claire recebeu insistentes galanteios noturnos de um homem mais novo. "Não soube lidar com a diferença de idade." Para acabar com a aquela relação que lhe parecia impossível, escreveu uma poesia.
Somente no ano passado, depois de mais de 20 anos daquele rompimento, Claire voltou a escrever -talvez rememorando os galanteios perdidos, um toque de erotismo insinuou-se em seus textos.

Esse prazer literário era quase clandestino até a semana passada. Se já era um aprendizado para Claire declamar em público -tinha até vergonha que lessem suas anotações-, foi obrigada a enfrentar um teatro lotado de jovens. E, ainda por cima, convidada a declamar seus versos sensuais.
Foi uma aparição inesperada.
Claire assistia a um recital da atriz Elisa Lucinda, com quem tem aulas de declamação, num teatro em São Paulo. A atriz chamou-a para o palco. Claire estava visivelmente constrangida, insegura -até porque havia algumas crianças na platéia, que deveriam vê-la como uma avó.
Pediu, então, que as crianças tapassem os ouvidos. A feição da avó ganhou sobras de malícia e olhares irônicos misturados a seus versos.
Saboreou a imagem da platéia que aplaudia de pé. "A essência do bem viver é procurar sempre fazer as coisas com prazer."

Comemora-se hoje o Dia da Terceira Idade o que, para ela, não significa lamentações e reclamações de dores, mas novos projetos. Daqui a dois meses, sairá o seu primeiro livro, intitulado "Meu Jeito de Falar".

E por falar em Rui...


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Rui do Carmo


O poeta Rui do Carmo, que agora em outubro nos presenteou com "Trincheiras", seu terceiro livro de poemas, nos conta que esteve por aqui, anonimamente, visitando o Blog da Confraria. Magoado (ou malblogado), lembra-nos que já é, desde 2007, quando lançamos juntos o livro de contos No além todos não morrem, confrade honorário e que, por isso, já merecia ter um poema seu publicado no Blog, assim como os demais confrades já o têm.
O autor do conto "O homem minhoca" nos deixa embevecidos com esse singelo protesto, visto tratar-se de personalidade de forte reconhecimento no meio literário paraense e amazônico.
Aproveitamos, então, e publicamos um dos seus poemas que, recentemente, vagueava no espaço cibernético da internet.
E como diria nosso confrade-mor: TOMA-TE!


UM PONTO

Necessito de um ponto
Que não seja comum,
Um ponto que não seja final,
Que não agregue e faça mal.
Um ponto que exploda,
Saia do sossego eterno.
Expandindo-se indefinidamente
Sem deixar buracos negros.
Um ponto inicial
Fora do convencional,
Para me rir dos filósofos
E dos caras de pau.
Ah!Ahhhhhhhhh!


Rui do Carmo

Tito Marcus


A Confraria d'A Cova dos Poetas conta com um confrade muito especial, Tito Marcus. Grande incentivador do movimento literário, ainda não se motivou a incluir seus trabalhos em uma das coletâneas do grupo. Mas já temos um poema seu, rabiscado num guardanapo no dia em que a Confraria comemorava sete anos, em maio de 2007. Aguardem que em breve esse poema estará publicado aqui!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Brasileiro Murilo Antônio Carvalho ganha prêmio de literatura em Portugal

LISBOA - O escritor brasileiro Murilo Antônio Carvalho, autor do romance "O rastro do jaguar", foi proclamado ganhador da primeira edição do Prêmio Leya, anunciou nesta terça-feira o presidente do júri, o poeta Manuel Alegra.
O Prêmio Leya, no valor de 100 mil euros, foi criado pela editora de mesmo nome com o objetivo de "apoiar os autores que escrevem em português e contribuir para sua maior difusão na área geográfica dos países lusófonos e em todo o mundo", segundo o regulamento.
O prêmio foi entregue por um júri internacional, do qual participaram o escritor angolano Pepetela, o reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosario; o escritor e jornalista brasileiro Carlos Heitor Cony, e Rita Chaves, crítica literária e professora da Universidade de São Paulo.
O júri examinou 422 candidaturas de autores de diferentes países.
O livro vencedor vai ser publicado pelo grupo Leya em todos os países lusófonos já em Janeiro de 2009.
Amanhã, na Feira do Livro de Frankfurt, terá lugar a festa de celebração do prémio, apesar de o autor, apanhado de surpresa enquanto grava um documentário na Amazónia, não vai poder estar presente.
Apesar de não ser conhecido em Portugal, Murilo António de Carvalho, de 60 anos, já tem alguns livros publicados no Brasil e, além de ser jornalista, é realizador de televisão. Tem-se dedicado ultimamente à realização de documentários ambientais e é o repórter responsável pelo programa Siga Bem Caminhoneiro, transmitido pelo canal brasileiro SBT há 16 anos.

(Fonte: O Globo e sol.sapo.pt)

Cabelos na Cara

Alberto Abadessa avisa que está prestes a sair do forno da Editora Paka-Tatu seu 4º livro, o romance Cabelos na Cara.
É o terceiro romance do escritor de O Amanhã de Todos Nós e Labirintos da Memória. O outro livro publicado é de contos: Rua de Contos - O Fantático do inconsciente.
Alberto é um aficcionado pelas histórias fantásticas e vale muito a pena ler seus trabalhos.
O lançamento está previsto para acontecer em dezembro. Não percam!

José da Silva Barros


Lâmina cega


Eram os deuses astronautas?
São os deuses tecnocratas?
Quem sabe de mim sou eu.
Quem sabe de mim sou eu.
O mundo implode,
Tudo nele sacode,
Destruindo o que é seu,
Destruindo o que é meu.
O coração se agita,
No peito saltita,
Dizendo que não morreu.
Mas você recorre,
Comigo “concorre”,
Levando o que é meu.
Eu quero mais garantia,
Eu quero a mais-valia,
Devolva o que não é seu.
Só temos um jeito:
Vamos ter mais respeito,
Pelo o que é seu e meu.

José da Silva Barros

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

João Bosco





Chuva


Não mais o tempo
.....mas o tempo
......de te ouvir, no teto
...................no vidro
...................nos pés
......de te ver, pelo vidro
.................pela neblina
......de te sentir, roupa molhada
....................pele colada
Não mais o tempo
.....mas o temporal
.........a balançar
.........a buscar
...........fechar os olhos
...........doída saudade
...........Ah, que vontade
Não mais o tempo
.....mas a maldade
...........instante final
...........lágrima teimosa
.........O que importa?
...........Te amo, afinal
...........Igual a chuva
................és poesia
.................e prosa.


João Bosco

Ney Cohen



Raimundo





Vira mundo
Vagabundo


Vara mundo
Farimbundo
Ver-te imundo
Vil raimundo

Vai pro fundo
Vai profundo
(Para o amigo Carlinhos)
Ney Cohen

Alberto Abadessa




O galo







O galo cantou
Chamou pelo Roberto, este se foi
O galo cantou
Chamou pelo João, este se foi
O galo pediu pelo amanhã e veio
Pediu penicilina no passado, veio
Pediu vacina para malária, não veio
Pergunto eu, galo, por que não vem vacina?
O galo cantou
Chamou o país tropical
Ele amanheceu doente
É a lei do mais fraco
Respondeu o galo
Galo, galo de minha alma
Por que não curas as doenças tropicais?
E o galo cantou
Quando ouvires o meu canto
Ao meio-dia, terás a cura do teu país
Porque ele já se educou, ele já amanheceu
Já viu que nada cai do céu
E tem que ir à luta, com arma, sem arma
Com pau, com a dor da raça
Sem a cor da raça, tem que lutar
E o galo cantou
A luz sumiu, veio a treva
Vejo o nosso país tropical
Na tela da vida
E nós continuamos os mesmos...
Alberto Abadessa

CURIOSIDADES LITERÁRIAS nº 01


Jovens que destruíram casa de escritor são 'condenados' a aula de poesia


Dezenas de adolescentes invadiram propriedade que foi de Robert Frost.Professor vai usar poemas do autor para mostrar o erro que eles cometeram.
Você pode chamar de justiça poética: mais de 20 jovens que invadiram uma casa que pertenceu ao poeta Robert Frost e destruíram o lugar durante uma festa foram obrigados a freqüentar aulas para aprender algo sobre o trabalho do escritor.
Usando poemas de Frost, o professor Jay Parini pretende mostrar aos vândalos o erro que eles cometeram, revelando o poder redentor da poesia.
Em uma das aulas, o professor leu um poema de Frost que falava sobre escolher entre dois caminhos. "É nesse ponto que Frost é relevante. Essa é a ironia da história toda. Você chega em um caminho em uma floresta que lhe dá duas alternativas. 'Devo ir para a festa e beber até cair'?", explica ele.
(g1.globo.com/Noticias/)

A estrada não trilhada

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
(NE) ínvia = impenetrável
Um pássaro menor

Quis, de fato, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.
(Tradução de Renato Suttana)

Robert Lee Frost nasceu em São Francisco, Califórnia, em 26 de março de 1874.
Foi um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século XX: recebeu quatro prêmios Pulitzer.
Com a morte do pai em 1885, mudou-se com a família para a Nova Inglaterra, região à qual Frost e sua poesia seriam permanentemente associados no futuro.
Em 1890, publicou seu primeiro poema e começou a dar aulas e realizar pequenos serviços em fazendas e moinhos.
A vida que levava nesse período moldou sua personalidade poética: foi um dos poetas norte-americanos que melhor combinou em seus versos o popular e o moderno, o local e o universal.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Confraria - Um breve histórico


A Confraria d’A Cova dos Poetas é uma organização lítero-cultural criada para dar vazão à produção literária e cultural dos talentos artísticos do Pará. Foi idealizada por Alberto Abadessa, José da Silva Barros, Ney Cohen e João Bosco (foto ao lado)
Em 25 de maio de 2000, deu-se início a essa produção com o lançamento do livro de poesias “A Cova dos Poetas”, livro artesanal, com tiragem de 150 exemplares (posteriormente ampliada em mais 200), que reuniu 13 escritores, em sua maioria, neófitos na arte impressa. Voltamos à baila novamente em 29 de maio de 2001, desta vez com o lançamento do segundo livro de poesias, “Romance de Poesias”, reunindo 9 poetas, numa edição de 500 exemplares editados pela Gráfica do Colégio Salesiano do Trabalho.
Em novembro de 2004, após termos o projeto selecionado pela Lei Tó Teixeira, através da Fumbel, conseguimos o apoio da Câmara Municipal de Belém para o lançamento do livro de contos e crônicas “Vôo Noturno... Além de todos os vôos”, tendo o lançamento sido realizado em grande evento no Memorial dos Povos.
O quarto livro, intitulado “No Além Todos Não Morrem”, também habilitado pela Prefeitura Municipal de Belém, através da Lei Tó Teixeira, com patrocínio da Extrafarma e apoio cultural do Sindicato dos Analistas Tributários da Receita Federal do Brasil – Sindireceita e da Doceria Abelhuda.
Histórias fantásticas, fantasmagóricas, de assombramento e de deslumbramento, que formam um emaranhado de teias pegajosas, que nos levam à perplexidade, não por suas visões cruéis ou aterrorizantes, mas por nos jogar em terrenos movediços de nossas lembranças, com fantasmas de nosso passado, a nos assombrar; por nos fazer percorrer becos escuros da nossa existência; dos medos da nossa infância; das angústias vividas em nossos relacionamentos amorosos; das frustrações do nosso dia-a-dia. Essas histórias estão no livro No Além, Todos não Morrem, lançado no dia 06 de dezembro de 2007, no Theatro Espaço Gasômetro, Parque da Residência, pela Editora Paka-Tatu. Alberto Abadessa, Antônio Juraci Siqueira, João Bosco, Ney Cohen e Rui do Carmo, são os autores dessas histórias fantásticas.